17.1.05

Cafeína

Spamf rola pela A5 abaixo, alucinado a 50 quilómetros por hora, o arvoredo do Monsanto a bailar ao mesmo vento que lhe empurra as costas,os rolamentos do skate a rosnar baixinho sobre o tapete de asfalto. O seu cérebro é bombardeado pela sobrecarga de dados, o hiperorgasmo a sete sentidos. Pelos tímpanos dentro jorram pancadas de aríete em ritmo berbequim, guinchos harmónicos tirados à faca, o ruído de fundo da Criação. O subwoofer na mochila faz-lhe vibrar o corpo como o clítoris treinado de uma pécora tailandesa. 60 quilómetros por hora. O arquiduque do caos, um camaleão urbano, arauto da nova ordem, barão eléctrico. E 70 quilómetros por hora. Calcanhar direito força para baixo perna esquerda flecte shhhhhhk POC e HOP! weeeeeeeeeeeeee sobre o rail em ângulo assustadoramente recto, a duas rodas como os duplos nos vídeos de 600 paus, as mãos a desenhar rituais arcanos no ar de 40 graus que o fustiga, como que a buscar oequilíbrio numa cabala anacrónica. A prancha demoníaca arranca electrões ao metal que jaz torturado por baixo dos rolamentos, um tufão de coriscos que avassala o torpor de quem, sentado no trânsito, assiste transido à passagem da criatura ínfera, o elemental do speed. Curva,curva, curva, curva, curva, curva, curva em frente!, perdendo o contacto com a Terra, entregue às carícias dos espíritos etéreos, partindo sem pavor nem donuts à parábola que o leva em arco meteórico para cima, sobre o TIR, para no apogeu se deixar paralisar por um pico-segundo, o mar quântico a rugir lá embaixo e tudo em si Uno com a Vida, a pala do boné como uma catana zairense a reclamar para o seu brandidor o direito ao nirvana. 2 dread 4 sk8. Fim de pausa. Derivada negativa, constante gravítica de novo a trabalhar a seu favor, milimetricamente sobrevoa o Corsa branco e AAAAAAAAAAAAAHHH ei-lo em pleno eixo norte-sul, esquerda, direita, direita, pica, trava, Praça de Espanha 250 metros, faz sinal com a mão enluvada, afasta as pernas para ventilar o escroto, põe a cereja em cima do bolo com uma pirueta sobre o traço contínuo. Mergulha triunfante no vórtex citadino deixando atrás de si um rasto de feromonas e vibrações em megabass, o cereal killer da Cova da Moura, o cromo mais difícil.
Pikachuuuuuuuuuuuuuu!!!

Sem comentários: