30.6.13

Um Fado: Palavras Minhas

Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
 em olhos que eram meus, e mais felizes.

Palavras que disseste e que diziam segredos
que eram lentas madrugadas, promessas imperfeitas,
murmuradas enquanto os nossos beijos permitiam.

Palavras que dizias, sem sentido, sem as quereres,
mas só porque eram elas que traziam a calma das estrelas
 à noite que assomava ao meu ouvido...

Palavras que não dizes, nem são tuas,
 que morreram, que em ti já não existem —
que são minhas, só minhas, pois persistem na memória
que arrasto pelas ruas.

- Pedro Tamen, in “Tábua das Matérias”

5.6.13

Contos do Baralho de Cartas (1)

Certos gajos não conseguem perpetuar a vida sem ter alguém, e o mesmo alguém, na cama todas as noites. Pode ser outro alguém novo, ou até um alguém que vá sendo vários alguéns de ano para ano, mas certos gajos fenecem e acabam por deixar a mesa de jogo quando não têm alguém na casa, que é onde fica a cama, todas as noites. Um dia ouve-se o Tim Booth cantar as pastagens azuis pela enésima vez e o poema certo ocorre, trocando uma porta por outra. As diferenças, então, residirão naquilo em que sempre residiram: na elegância e no método.