17.6.16

agora o quarto é maior do que a morte
e qualquer rua ou estrada onde eu te beije
será a nossa casa plena de humores
da alvenaria com que fazes os muros
por cima dos quais a criança em ti salta

agora ainda tenho vontade da tua boca
e nada nos lençóis cheira a anteontem
quem quer que aqui entre saberá da pele
deixada por nós no dia zero do amor
a verdade passou a escrever-se deitada

agora o teu auge continuo
agora noite sem data
agora crer
agora recomeçar

3.6.16

quando o silencio perene e feroz
 das florestas por mim reclama
vem de dentro uma velha voz
vem a furia acalentar esta chama
e deliro com a ideia de ti esvaída

em sons e suor que jorram dos poros
abertos ao fremito dos meus dedos
onde segregas os teus tesouros,
onde assalto o reduto dos medos
e te seguro em dolor, possuida

como se a pele fosse um sol
saciando ate ao fundo
todo o celestial rol
toda a fome do mundo
a celebrar a teimosia da vida.