3.4.09

Os pilarzinhos da União

Passeámos há umas horas pela aldeia de Querença, no concelho de Loulé.

Podia ler-se, ainda hoje no Lifecooler, que "é uma aldeia que conserva boa parte da sua traça tradicional, com uma praça muito típica, rematada por uma igreja com uma interessante decoração interior. Num dos seus extremos existe uma nora tradicional recuperada. Está situada a norte de Loulé, devendo seguir-se a EN396 (...)"

Esta informação, contudo, à semelhança de tantas outras peças contemáticas, está fora de prazo. Expirou, passou à História, aos anais, aos canhenhos, porque toda a área ocupada por Querença, de facto quase todos os seus traços, até a traça, foram absorvidos pelo espírito da União Europeia. Existe ali, agora, um Pólo Museológico, de linhas geometricamente correctas, em alumínio, vidro e de um alvor mais branco que a própria tinta; o adro da Igreja está coberto de um chão límpido, asseado, homogéneo, novo. 
Se ainda não vos é perceptível o aroma do erro, mais se dirá que todo o Largo surge ladeado por pilares de alumínio, milimetricamente idênticos, garbosos, rectos, de design francês, assentes e espaçados com o cuidado de um cantoneiro suíço, num belo padrão sinuoso. De resto há um parque de estacionamento com oito lugares, bem contados e devidamente assinalados. 

Também sei, por mo terem dito, que já não se come em Querença como dantes, apesar das estradas, bem pavimentadas e com bermas altas, tornarem mais fácil a chegada - e a partida. 

A nora ainda lá está mas tem um trabalhar que me soou demasiado mecânico, perfeito, impoluto, normal, circular, repetitivo e livre de identidade. Certificado, portanto.

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