por Alberto Gonçalves
A escola de hoje abdicou daquilo que a escola do meu tempo, mesmo com uma igreja em frente ainda tentava: ensinar
Um azar determinado pela eventual coincidência entre os que fazem e aplicam as leis e os que delas beneficiam. Por regra, cada "caso" murcha graças à soberana, assaz soberana, necessidade de se defender uma coisa chamada "Estado de direito", o qual, curiosamente, vai desaparecendo em proporção directa ao zelo com que é defendido. O "Estado de direito", conceito em teoria louvável, vem sendo adaptado na prática às conveniências dos que mandam nele, ou seja, na prática a impressão é a de que a manha e a trapaça se apossaram de tudo, ou de quase tudo, o que não é o mesmo mas, em matéria de falência do regime, é igual.
Embora o mérito não pertença exclusivamente ao eng. Sócrates ou ao PS, eis a maior e mais autêntica reforma "socrática" e socialista: aqui há anos, achava-se espantoso que tantos portugueses não acreditassem na Justiça; hoje, o que espanta é ainda haver alguém que acredite. E, segundo demorada consulta a analistas televisivos, artigos de opinião, blogues e caixas de comentários dos "sites" informativos, há.
Ou talvez haja. Temos de excluir das contas os que fingem confiar no sistema somente porque estão no poder, vivem das migalhas do poder ou aspiram a uma das opções anteriores. Falo dos cidadãos que, sincera e desinteressadamente, crêem no "bom funcionamento das instituições". Não os censuro, antes curvo-me em admiração e pergunto-lhes: como conseguem? De onde lhes vem o optimismo com que declararam "aguardar que a Justiça faça o seu caminho" quando a experiência sugere que, em certo tipo de processos, esse caminho aponta, invariavelmente, ao arquivo morto? O que os torna indiferentes à impunidade dos que, por dever dos cargos, estariam teoricamente sujeitos a superior escrutínio? Em suma, a que se deve a sua cegueira? Juro que quero saber: dadas as circunstâncias, não ver nada é uma virtude fundamental para se suportar o estado, não o de direito mas aquele a que isto chegou.
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