31.12.14

sabes o que te digo? cedo ou tarde, os musculos, os ossos, a pele, a mente (bom, essa espero que nao), a pilinha (esta tb qt mais tarde melhor) e a vaidade de caber naquelas calças ou de encantar a miuda mais gira - tudo se vai. os oito quilos que ganhei ate sao um preço aceitavel a pagar pelas reviravoltas que o meu mundo deu nestes 18 meses. nao sei se concordarias aplicando isto a mim, ou aplicando no generico, mas agora depois de ter comido a massinha quente com meio copo de vinho e de ter estado a falar com a xxxxxx senti-me assim.

30.12.14

Fecho os olhos ao sol

E vou à minha procura

mas só encontro o teu sorriso

E só permanece em mim a memória

De escrever sem parar enquanto

sossegavas ao sol, dentro da minha barriga

Fecho os olhos ao sol

E continuo esta mescla de remorso,

sobrevivência e desprezo pela minha entrega,

de armas deitadas aos pés de nada e ninguém

Talvez tivesse desculpa ou não precisasse de a ter

São apenas anos que passam, destapando evidências

Gosto pouco de evidências, agora

Interessa-me a situação na Rússia e o sabor do café

Não preciso sequer de fugir de caminhos tortuosos,

sei que não são mais que uma enorme cobardia

É tudo este sol curto mas forte de Dezembro,

O vale estará verde e o riso e as conversas ecoam ao longe

Não há nada, não há nada

Por mais que puxe e repuxe

Não há nada

E agora, nem já a dor de o escrever

- A.C.
A máquina mística

Mais um ano outra vez
já lá vão quarenta e três
a minha vida é um desastre
nada há nela que me baste.
Poeira negra, silvo de automóvel,
hemorragia de árvores na resina
que dá verniz a insigne Prémio Nobel
e que liberta odores a gasolina
invadindo as paredes do harém
onde o bom sexo é o maior bem.
A minha vida é um desastre
nada há nela que me baste.
Fábrica fumarenta dos espíritos
por sobre as águas negras do canal.
Um proletário perde-se em inquéritos
como quem anda muito mal.
E o calor derrete o aço,
ao mundo falta-lhe o espaço.
Mais um ano outra vez
já lá vão quarenta e três.
Trago comigo plásticas ideias
e dezenas de indústrias satisfeitas.
A vida nas cidades europeias
começa à hora em que te deitas.
Anos falidos no desgaste,
nada na vida que me arraste.
Nada há nela que me baste
a minha vida é um desastre.
Dois cabelos eléctricos na face
irrequietos giram como hélices:
paisagem de helicópteros e guindastes
que me confundem e só dão chatices.
Liras metálicas e loiros trastes,
cordas de Orfeu prendendo Eurídice.
Já lá vão quarenta e três
mais um ano outra vez.
No Titanic alguém me disse:
falta-me o óleo da sobrevivência.
Corpos e porcos, Circe sobre Ulisses
como quem come sem decência.
Maré evanescente, a verga tesa
o herói exibe sobre a mesa.
A minha vida é um desastre
nada há nela que me baste.
Micromáquinas dentro de voz dúbia
que ao longe ouvimos pela telefonia.
Raros vestígios de vetusta múmia
alimentando todas as fobias.
Lenços pousados sobre a estante,
com que limpo as tristezas e o sangue.
Mais um ano outra vez
já lá vão quarenta e três.
Cavalo místico na mão de Goya,
em louco trote sobre milhares de anos.
Andam comigo nos anais da história
cavalos que explodiram por engano,
de míssil que lançaram americanos
do Golfo Pérsico directo a Tróia.
A minha vida é um desastre
nada há nela que me baste.
A tv apresenta um bom programa
e o bom deus caminha no jordão.
Desprezo o zapping, deito-me na cama,
como tremoços, adiro à religião.
O Newton e a trotinete azul
entram no ecrã vindos de Cabul.
Já lá vão quarenta e três
mais um ano outra vez.
O primitivo aedo acende a lãmpada
que dá ao quarto um ar de apoteose.
Metralha e parafusos, gozo e manta,
muita cerveja em excessivas doses.
Celeste dia que desmente Einstein
e arruina a herança de meu pai.
Mais um ano outra vez
já lá vão quarenta e três
a minha vida é um desastre
nada há nela que me baste.

Do livro inédito
A Mecânica do Sexxo XXI, no prelo

-Luís Adriano Carlos

21.12.14

a cada inverno, como o urso proverbial
jejuo e hiberno, em auto-exclusão associal
e sonho; contribuintes passeiam como avestruzes
legando aos seguintes o custo destas belas luzes

é do caralho ter sempre razão, lavrar na pedra o mal
anos vêm e vão, após o  enterro já só sobra o natal
com a paróquia perdida no deslumbramento do dia.
tivesse eu mais vida e nem sei quantos aniquilaria

o cancro de eleitorado vitima cada vez mais utentes
nao ha um deputado capaz de defender os morrentes;
tacteia-se o gráfico do tempo que resta, na redacção
perpetua-se o tráfico à hora da sesta, maldita nação










18.12.14

Salmos 55

Dá ouvidos, ó Deus, à minha oração, e não te escondas da minha súplica.
Atende-me, e ouve-me; agitado estou, e ando perplexo,
por causa do clamor do inimigo e da opressão do ímpio; pois lançam sobre mim iniqüidade, e com furor me perseguem.
O meu coração confrange-se dentro de mim, e terrores de morte sobre mim caíram.
Temor e tremor me sobrevêm, e o horror me envolveu.
Pelo que eu disse: Ah! quem me dera asas como de pomba! então voaria, e encontraria descanso.
Eis que eu fugiria para longe, e pernoitaria no deserto.
Apressar-me-ia a abrigar-me da fúria do vento e da tempestade.
Destrói, Senhor, confunde as suas línguas, pois vejo violência e contenda na cidade.
Dia e noite andam ao redor dela, sobre os seus muros; também iniqüidade e malícia estão no meio dela.
Há destruição lá dentro; opressão e fraude não se apartam das suas ruas.
Pois não é um inimigo que me afronta, então eu poderia suportá-lo; nem é um adversário que se exalta contra mim, porque dele poderia esconder-me;
mas és tu, homem meu igual, meu companheiro e meu amigo íntimo.
Conservávamos juntos tranqüilamente, e em companhia andávamos na casa de Deus.
A morte os assalte, e vivos desçam ao Seol; porque há maldade na sua morada, no seu próprio íntimo.
Mas eu invocarei a Deus, e o Senhor me salvará.
De tarde, de manhã e ao meio-dia me queixarei e me lamentarei; e ele ouvirá a minha voz.
Livrará em paz a minha vida, de modo que ninguém se aproxime de mim; pois há muitos que contendem contra mim.
Deus ouvirá; e lhes responderá aquele que está entronizado desde a antigüidade; porque não há neles nenhuma mudança, e tampouco temem a Deus.
Aquele meu companheiro estendeu a sua mão contra os que tinham paz com ele; violou o seu pacto.
A sua fala era macia como manteiga, mas no seu coração havia guerra; as suas palavras eram mais brandas do que o azeite, todavia eram espadas desembainhadas.
Lança o teu fardo sobre o Senhor, e ele te susterá; nunca permitirá que o justo seja abalado.
Mas tu, ó Deus, os farás descer ao poço da perdição; homens de sangue e de traição não viverão metade dos seus dias; mas eu em ti confiarei.