24.6.08

Obama e a "motivação"

O problema da política, hoje é só um: mas quem são as pessoas? O que fazem durante o dia? Já terás reparado que estas duas questões, cada vez mais, se equivalem, e é isso que está errado. Primeiro, porque a ilusão de estar a trabalhar para qualquer coisa importante e significativa cada vez é maior (miragem que se contradiz claramente porque, por absurdo, se o valor médio da espécie fosse uma curva em ascensão real em vez de ilusória, a política não seria feita de motivar pessoas e sim de capitalizar no seu trabalho) e por outro lado, é inevitável sentir medo face à ditadura dos néscios. Não é só entre nós que os idiotas imperam.


(tirado de uma conversa entre nós)

23.6.08

Com isto tudo esqueci-me de falar sobre o exame de Matemática B.

Vou ser breve porque tenho um Bombay com tónica a aquecer.

Questão do II grupo: o período de certo satélite é dado por 24/sen(q) sendo q o ângulo tal, tal. Tendo em conta esta expressão prove que o período deste satélite sobre o pólo norte é igual a 24.

E depois em letras bem visíveis: "tenha em conta que no pólo norte o ângulo q é de 90º"...

Ou seja, "ganhe 10 pontos pegando neste valor que lhe damos, 90, e substituindo na expressão dada".

E não é que por mais que tente abstrair-me, só consigo pensar naqueles Estados totalitários, à esquerda e à direita e ao centro-sul mais o raio que os parta, onde o auge da proficiência era chegar a ministro de qualquer coisa?

Tenho aqui os exames de Matemática A e B - 12º ano, de 2008.

Aconteceram, hoje, três coisas em linha com o que era expectável:

- o exame era muito acessível; houve uma questão oferecida (a 5, que, em suma, pedia ao examinando que calculasse uma área que a sua calculadora poderia facultar-lhe com dois cliques) e várias outras de resolução bastante rudimentar. Sei ainda que os critérios de correcção deste ano são mais lenientes do que os de anteriores épocas. Vantagem estatística... ou tapar o sol com uma peneira, dando por penhor a literacia de gerações futuras num Estado onde servir à mesa valerá qualquer dia (novamente, desculpem) o mesmo reconhecimento do que seccionar corações, projectar aeronaves, ou desenvolver investigação laboratorial.

- as dificuldades sentidas pelos examinandos foram quase as mesmas, quantitativamente face à amostra que compareceu hoje, que teriam sido nos anos transactos; descobre-se agora com perplexidade entre as hostes da DREL e afins que os putos, além de ficarem bloqueados por não serem capazes de descodificar um enunciado escrito na mais básica, directa e rectangular expressão da língua materna, também se atrofiam (intimidam) face às diferenças entre as questões que compõem o exame e aquilo que viram durante o ano inteiro; ou seja, o velho quadradinho da "adaptabilidade a novas situações" desapareceu, talvez porque os responsáveis pelo ensino não sabem o que são novas situações, já que não saem dos gabinetes há vinte anos.

- o pessoal vai todo para economia, gestão, contabilidade ou cursos de belas-artes. Para depois poderem trabalhar num banco a ganhar 450 euros e a apanhar as sobras das cunhas dos tios. Mas isto até faz algum sentido, uma espécie de nexo perverso: não se valoriza, neste país, o rigor, o conhecimento, as práticas de apuramento da "boa" verdade enquanto única garantia da liberdade de pensamento e de um Estado de Direito. Em vez disso, preza-se o chico-espertismo, a mediocridade e a celeridade na obtenção de méritos aparentes, em prol da manutenção do statu quo - o reino dos pobres de espírito.

Benditos.

16.6.08

Os exames das florzinhas de estufa por Pinho Cardão no 4ª República

"Os exames nacionais finais do ensino básico e secundário começam na próxima terça-feira, com as provas de Português, e são protegidos por 7.000 militares da GNR.
Com a época, logo aparecem os comentadores e os tratadistas, os pedagogos, psicólogos e metodólogos, e todos os muito bem pensantes a alertar para os traumatismos e o horrendo stress que os exames provocam nas tenras mentes de quem se sujeita a tais absurdas provas.
A situação é hoje relatada em artigo de Mário Cordeiro, professor de Pediatria, no DN de hoje-Notícias Magazine.
“Exames, exames…é o stress total. Filhos angustiados, pais em pânico, horários em desordem, quartos a parecerem cenários de pós-guerra, discussões a estalarem por tudo e por nada. É assim a vida de muitas casas onde há jovens a aproximar-se da receada hora dos exames…”
Enfim, é gentinha desta que a nossa educação está a criar: florzinhas de estufa, que se enervam e estiolam a qualquer aragem…Sugiro que os ponham sempre numa redoma: na escola, no trabalho, na vida. E tenham-lhes um psicólogo sempre à mão, preferentemente com os mesmos problemas. Consolar-se-ão uns aos outros!…
Cá por mim, começo agora a ficar traumatizado por não ter ficado traumatizado com os exames que fiz!…
Até porque arranjar um qualquer traumatismo psicológico é mesmo a única forma que me resta de não ficar fora do sistema e ser considerado um troglodita execrável…"

7.6.08

Por esta hora há 11 anos nasceu o meu filho.

O que desejo para o seu futuro é apenas

- placidez
- ânsia de transcender-se
- objectividade

Estas coisas quero-lhe e dependem dele. Quanto ao resto - "sorte" e outras benesses gratuitas que tais - não vale a pena ter expectativas ou contar com isso de borla porque a criança não é parva nem precisa que lhe encontrem lotarias maiores; entre o que ele tiver nos genes e o que vier fruto do seu posicionamento face ao Mundo, será essa a soma das suas colheitas.

Amo-te, filhote.