23.3.09

Ignorantes e mais ignorantes

Acabo de ouvir António Vitorino, na brincadeira apologética semanal com Judite de Sousa, dizer que o Governador de BENGALA (sic), em Angola, lhe pediu para usar os seus poderes de então-Ministro para demitir o então-treinador escocês do Benfica, SORENSON (sic).

Foda-se e refoda-se, ver esta merda paga pelo meu dinheiro é aviltante. 

17.3.09

As lendas atraem o escol como as ideologias atraem os homens comuns e como as descrições de “terríveis” forças ocultas atraem a ralé e a escória (…).

- Hannah Arendt, As Origens do Totalitarismo

12.3.09

Quem me dera que houvesse um partido mais libertário que impedisse que o governo se intrometesse tanto na vida das pessoas. Basta de impor regras às pessoas. Deixem as pessoas em paz. E as pessoas deviam voltar a viver de acordo com os seus meios. Ter a economia a reagir desta maneira é um bocado estúpido. Há já muito tempo que devíamos andar a ensinar a ideia da responsabilidade fiscal, mas como é que isso vai ser possível quando estamos a ser, diariamente, bombardeados por anúncios que nos dizem que é possível comprar tudo apesar de não termos os meios necessários? Sei bem que os programas de apoio social têm benefícios, mas, a meu ver, o problema começou com a ideia do Estado como suporte. Foi aí que as pessoas meteram na cabeça que podiam ter algo mesmo sem trabalhar. Depois disso vieram as promessas. O povo começou a votar de acordo com as promessas dos políticos, que prometem tudo porque não estão a gastar o dinheiro deles. Era tão bom que metêssemos todos na cabeça que não vamos receber caridade de ninguém e que, mesmo assim, poderemos viver as nossas vidas como nos apetece. Garanto que ficava tudo melhor. Com as gerações mais novas ainda é pior. Vão a uma festa e, depois, à saída, ainda recebem um saco com prendinhas várias. É a geração gift bag.


- Clint Eastwood

6.3.09

Momentos taco de baseball

19:14, entrada do IC17.

Por uma vez em mil, respeito a fila. O tracejado intermitente cede lugar ao fio constante, e este a uma dupla linha que até mesmo os mais temerários pintarolas do Cacém pensam duas vezes em cruzar, àquela hora. 

Do meu lado esquerdo surgem dois cromos, cada um mais empinado que o outro, do alto da sua condução abastada à conta do enésimo cartão de crédito, navegantes da bolha que começou a estoirar em Outubro do ano passado. O gajo do Mercedes enfia-se à cão, dou-lhe esse mérito, e segue em frente sem dar cavaco; a tiazona ao leme da Renault Espace, ressabiada de semanas sem conta a ir buscar os putos enquanto o marido janta com os amigos, finge conduzir com cuidado enquanto se estica, polegada após pesarosa polegada, para dentro da nossa faixa, da faixa da malta que optou hoje pela urbanidade. Se mo contassem assim dir-vos-ia, fodei-vos. 

A gaja mete-se de repente. Eu travo, o tipo de trás nem por isso. A pécora-móvel galga para a berma e some-se num ai, como as poupanças de um reformado que more em frente a um casino. 

Fitei-lhe as trombas, sei que xasso conduz, já nada me falta: se a apanho à frente dos olhos, desfaço-lhe a cremalheira toda a golpes de faia. 

São estas merdas que me concedem ainda algum gozo ao dourar o exercício da misantropia. 

Puta que a pariu, tia.

Muito rapidamente...

Quatro álbuns ouvidos recentemente:

Doro - Fear no Evil **
The Sound - In the Hothouse *****
Black Label Society - Mafia ***
Clan of Xymox - Breaking Point **

Quatro daquelas bandas que mais ninguém conhece:

Thorn Eleven ***
Cactus World News ****
The Merry Thoughts **
Heavy Load **

Quatro filmes:

O Leitor *****
Slumdog Millionaire ****
Watchmen **
Vicky Cristina Barcelona **

Quatro viagens:

Islândia
Finlândia
Gronelândia
Nova Zelândia



4.3.09

JOSÉ SÓCRATES, O CRISTO DA POLÍTICA PORTUGUESA

por João Miguel Tavares


Ver José Sócrates apelar à moral na política é tão convincente quanto a defesa da monogamia por parte de Cicciolina. A intervenção do secretário-geral do PS na abertura do congresso do passado fim-de-semana, onde se auto-investiu de grande paladino da "decência na nossa vida democrática", ultrapassa todos os limites da cara de pau. A sua licenciatura manhosa, os projectos duvidosos de engenharia na Guarda, o caso Freeport, o apartamento de luxo comprado a metade do preço e o também cada vez mais estranho caso Cova da Beira não fazem necessariamente do primeiro-ministro um homem culpado aos olhos da justiça. Mas convidam a um mínimo de decoro e recato em matérias de moral.

José Sócrates, no entanto, preferiu a fuga para a frente, lançando-se numa diatribe contra directores de jornais e televisões, com o argumento de que "quem escolhe é o povo porque em democracia o povo é quem mais ordena". Detenhamo- -nos um pouco na maravilha deste raciocínio: reparem como nele os planos do exercício do poder e do escrutínio desse exercício são intencionalmente confundidos pelo primeiro-ministro, como se a eleição de um governante servisse para aferir inocências e o voto fornecesse uma inabalável imunidade contra todas as suspeitas. É a tese Fátima Felgueiras e Valentim Loureiro - se o povo vota em mim, que autoridade tem a justiça e a comunicação social para andarem para aí a apontar o dedo? Sócrates escolheu bem os seus amigos.

Partindo invariavelmente da premissa de que todas as notícias negativas que são escritas sobre a sua excelentíssima pessoa não passam de uma campanha negra - feitas as contas, já vamos em cinco: licenciatura, projectos, Freeport, apartamento e Cova da Beira -, José Sócrates foi mais longe: "Não podemos consentir que a democracia se torne o terreno propício para as campanhas negras." Reparem bem: não podemos "consentir". O que pretende então ele fazer para corrigir esse terrível defeito da nossa democracia? Pôr a justiça sob a sua nobre protecção? Acomodar o procurador-geral da República nos aposentos de São Bento? Devolver Pedro Silva Pereira à redacção da TVI?

À medida que se sente mais e mais acossado, José Sócrates está a ultrapassar todos os limites. Numa coisa estamos de acordo: ele tem vergonha da democracia portuguesa por ser "terreno propício para as campanhas negras"; eu tenho vergonha da democracia portuguesa por ter à frente dos seus destinos um homem sem o menor respeito por aquilo que são os pilares essenciais de um regime democrático. Como político e como primeiro-ministro, não faltarão qualidades a José Sócrates. Como democrata, percebe-se agora porque gosta tanto de Hugo Chávez.