19:14, entrada do IC17.
Por uma vez em mil, respeito a fila. O tracejado intermitente cede lugar ao fio constante, e este a uma dupla linha que até mesmo os mais temerários pintarolas do Cacém pensam duas vezes em cruzar, àquela hora.
Do meu lado esquerdo surgem dois cromos, cada um mais empinado que o outro, do alto da sua condução abastada à conta do enésimo cartão de crédito, navegantes da bolha que começou a estoirar em Outubro do ano passado. O gajo do Mercedes enfia-se à cão, dou-lhe esse mérito, e segue em frente sem dar cavaco; a tiazona ao leme da Renault Espace, ressabiada de semanas sem conta a ir buscar os putos enquanto o marido janta com os amigos, finge conduzir com cuidado enquanto se estica, polegada após pesarosa polegada, para dentro da nossa faixa, da faixa da malta que optou hoje pela urbanidade. Se mo contassem assim dir-vos-ia, fodei-vos.
A gaja mete-se de repente. Eu travo, o tipo de trás nem por isso. A pécora-móvel galga para a berma e some-se num ai, como as poupanças de um reformado que more em frente a um casino.
Fitei-lhe as trombas, sei que xasso conduz, já nada me falta: se a apanho à frente dos olhos, desfaço-lhe a cremalheira toda a golpes de faia.
São estas merdas que me concedem ainda algum gozo ao dourar o exercício da misantropia.
Puta que a pariu, tia.
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