10.11.13

Words Wide Night

Somewhere on the other side of this wide night
and the distance between us, I am thinking of you.
The room is turning slowly away from the moon.

This is pleasurable. Or shall I cross that out and say
it is sad? In one of the tenses I singing
an impossible song of desire that you cannot hear.

La lala la. See? I close my eyes and imagine the dark hills I would have to cross
to reach you. For I am in love with you

and this is what it is like or what it is like in words.

- Carol Ann Duffy

3.11.13

Morning Song

This is life's silent hour,
sunny and blessed,
laughing white in power-conscious peace.
The rejoicing and the songs fell silent,
for Joy overflowed the shores.
Hail to you, Joy, Joy,
in your silent, vainglorious smile!
You alone can plumb
the secret of the worlds.

O bubbles, bubbles, o foam, foam
are all our care, all our grief,
yes foam on measureless expanses,
bubbles on the ocean
is that which we chase and cherish and fear,
but Joy, Joy is the world's foundation.

How do I dare…? And yet!
Do you think that life's flower,
carved a thousand times by suffering.
would continue in darkest darkness
to shine in beauty in spite of everything,
were not its root and heart
heavy, yes, brimful of bliss?

O bubbles, bubbles, o foam, foam
is all our pain, our blind grief.
Joy alone knows more than others.
Yes, in its holy white hours
rests in the leaves' quivering daylight
the reflection of godlike depths,
smiling, smiling.

Like tidal waves, like thunderclouds
day's care will soon envelop me.
Let me remember in tears and greyness,
that clarity's blinding moment
forced me to say to life and death,
to the whole world and even to myself:
'Amen, amen,
happen, then!'

-Karin Boye


Para ti que vens de escudo em riste e cujo flanco a minha espada vigia.

27.9.13

renascer

esta noite em claro é para ti
branca como cada folha vazia
ou ainda igual a este regresso
ao arquear do teu sono a mão

apaga a luz e é por ti que desliza
na pele sem temor de futuros
incertos nem morte
nunca um planeta ardeu tão alto

há velas na noite e elas conduzem
àquele espaço azul entre as nuvens
o segredo por entre os acordes
do teu cabelo murmura o nome da rosa

com quantos braços deve um homem
adormecer no luar dos teus olhos
com quantas vitórias sorrir
com quanta destreza te amar.

12.9.13

You who balk at the smell of salt on every meal.
You who will not have that third glass of wine.
You who never ate anything that did not come from a shelf.
You who read the mainstream media to justify your gutless days.
You who sell your grandchildren's future for a dime and another day.
You who know precious little yet jeer at those who know different.
You whose notions of safety and freedom would make a neanderthal drop dead with multiple stomach ulcers from laughing so hard.
You who deny the broader meaning of life, yet claim that I do not live.
You who hide in plain view accusing others of hiding under a bed.
You fucks, how can you mistake preparation for fear?

6.9.13

Conquest of the Garden

The crow that flew over us and sank-
in the confusion of a vagabond cloud;
The crow that swiftly crossed-
the extent of the sphere-
like a short arrow-
will tell about us-

in the town.

Everybody knows.
Everybody knows that you and I, 
looked through the oblique crack of the wall-
and saw The Garden.

Everybody knows.
Everybody knows that you and I,
reached for the trembling branch of The Tree-
and picked the apple.

Everybody is scared.
Everybody is scared but you and I,
together joined lights, mirrors and water-
and feared never.

For you and I,
it is not about a frail union of two names-
in the aged pages of a registrar notebook.
It is about my fortunate locks-
and the burning stroke of your kiss.

For you and I,
it is about the imminence of our skins-
in the sacred wellspring of lightly streams,
swiftly sliding -
over the waterfalls and the hills.

And, it is about the fountain’s songs-
its fleeting flight, its short, silvery life.
You and I, in the core of a darkened night,
in the fluid freshness of forests,
on the peak of shielding mounts,
and in a freezing fearful sea-
asked young, golden eagles-
what we ought to do.

Everybody knows.
Everybody knows that we pierced-
into the silent dream of Phoenix.

Everybody knows.
Everybody knows that you and I,
In the prairies and the plains-
reached to the glittering roots-
of Truth.

Everybody knows.
Now, everybody knows that you and I,
in an endless instant,
conquered the entirety of Eternity.

For you and I,
It is not about a shaking whisper in the dark.
It is about Day and its invading spark.
It is about a breeze over the fertile side.
It is about birth, evolution and pride.
It is about burning every futile piece-
in the garnet core of the flames.
And it is about our hands-
that contrived a bridge, concrete and bright,
over the tear of night.

Come to the turf! Come to the turf-
and call my name! Call my name-
with a choral of white lilies-
like a gazelle who calls his mate.

The shades of dusk-
are floating in their veiled sorrow.
And doves, from the windows of their white tower-
are looking at Earth.

Come to the turf!

- Forough Farrokhzad
Translation: Maryam Dilmaghani, May 2006.

24.8.13

entre noites de natal fodidas tropeçamos 
de mãos, amiga dadas como abraços 
a medo para fingir cobardia, 
uma dor mais forte 
e involuntariamente sincera que arde 
a quatro olhos deve ser isso mesmo 
a coincidência que é preciso negar o vinho, 
a força natural das flores que falecem 
em data certa o teu espectro no outro lado 
da cama, o pão com dois dias, uma ode 
aos suicidas que escolheram o método mais longo.

14.7.13

Eu não queria vir a Guimarães. Vimara Peres, ou mesmo o Pero da terra dita, não me diziam nada no beco duodeno-jejuno final de uma semana que se revelara galharda e pródiga no bem-estar almejado fora do quadrado pátrio.

Foi contudo o meu filho, a quem há quase tantos anos como ele tem de vida, eu devia estas férias, que escrutinou o burgo onde havíamos de vir calhar na tarde hodierna. Aterro na praça central e vejo uma esplanada burilada com gente mista, tatuados à mistura com betos, crinas roxas pelo vale meão de camisas alvas. Um caldo, senhores.

Mas ouço Alice in Chains e a moçoila que carrega as copas tem um ar giro, salubre, esperto e bem posto. Sento-me e obrigo o pós-púbere a seguir-me na senda.

Três Carlsberg e uns amendoins depois, sei que a terraça se chama El Rock Bar, e que ali perdura há dezasseis anos, proeza em que supera o meu ido Conspiração Café-Bar em cerca de quinze anos e quatro meses. Os cilindros de cevada descrevem evoluções húmidas por entre as mesas, e a rapariga é conversadora sem dar-se ares de mais nada.

Explico ao meu filho que não deve assumir que uma pessoa, ao meter conversa com outra que é vinte anos mais nova, estará a fazê-lo por motivos de engate (pese embora a possibilidade, não probabilidade que assim seja) caso contrário, perante interlocutor sabido, fica logo a braços com um argumento vazio sob pena de servir para acusar qualquer octogenário de assédio, ao pedir lume ou perguntar as horas a quem passa pelo banco do jardim.

No hotel haviam recomendado, como poiso para o pasto, o Histórico, no Largo João Franco, alvitre corroborado pela noviça rockeira, ora Paty. Não há fome mas há vontade de comer.

Vamos então na peugada do pórtico por onde se lhe adentra ao tabernáculo proposto. Conversamos sobre as indústrias, que as há, mais do agrado e interesse que ao meu outrora petiz, à idade com que eu da dependência paterna já nem podia ou queria ouvir falar, mais aprazem. Ganhei perspectiva e sempre aquiesci a romper a dieta.

Comecei, no meu ego e naquele momento, a traduzir-lhe a proporcionalidade inversa entre o tempo que resta e a importância cedida a merdinhas relativizáveis como se a gaja pensou que eu era tarado, quatro quilos a mais, ou cinquenta euros a menos. Quis com isto prover-lhe a que galgasse mais um degrau nessa suma exibição de força, a supressão do ego sem que no entanto abdiquemos, por dentro ou no cerne, dos princípios directores que nos deixam subsistir, justamente, à conta de um Eu imacerável.

Entretanto quis Taránis, que como todos sabem martela o céu por cima das nossas cabeças, mandar chover e ribombar; todos, a começar pelos franceses que se haviam dirigido a todos e cada um dos restantes convivas, em várias línguas, inquirindo da sapidez e teor mineral dos pratos em marcha, recolheram em debandada para as mesas situadas a coberto da intempérie.

Eu não.

Por razão alguma, porque um cavalheiro não se molha quando chove, porque às senhoras, em última análise, cabe reparar na placidez que destrinça, hora limite, o gentil-homem do banal burguês, mas acima de tudo, estratosfericamente além de toda e qualquer outra razão, motivo ou agenda, porque eu havia dito, e por ser verdade teria de agi-lo, que a supressão do ego (eu não gosto que me chova em cima; mas perco mais se parecer um tonto em fuga do que se me caírem três gotas no vertex) está, em situações sociais às quais devemos atender, furos para lá da instantânea satisfação que ao ego, ainda que seja como o é para mim o primário motor do meu mundo, devemos conceder à medida que a derradeira hora se aproxima.

Eu penso que ele irá digerir a lição, que o meu cuidado e subtileza em limar cada precipitação ou encolher de ombros com um matraquear paciente de sinonímia emocional para as razões exclusivamente intelectuais dos meus actos, dará tudo em fruto temporão e ainda no meu tempo de saborear o penúltimo soçobrar dos galhos.

É evidente que a Paty não quer saber de entradotes tatuados que trazem num poro mais bandas, filmes, livros e amores à falésia em Agosto do que toda a canalha Vimaranense, alargada de orelha ou de mais forma inserida, saberia invocar mesmo limpa do catéter cereálico.

Mas também isso faz parte de ir-se por nuestra puta vida aceitando mistérios novos e rejeitando epitáfios antecipados. E por isso mesmo pedi a aguardente para rematar o jantar, e passei pelo El Rock entre os pingos da chuva só para ver que som de lá vinha.

11.7.13

Rivotril (Clonazepam), dia quarenta e três

when the dreams finally came back
fallen asleep in some different city
having dined with different people
of a different air under different weather

turning and cowering at the break of day
unlike before, you were not about to leave
unlike before, there was noone lurking in wait
at the kitchen door, waiting to carry your bags

but waking up to a foreign, different future
differently grey, differently daunting now
you were to stay forever behind, in my reverie
and unlike before no longer asleep at my side

asturias
11.VII.2013

2.7.13

#560

Oh day of fire and sun,
Pure as a naked flame,
Blue sea, blue sky and dun
Sands where he spoke my name;
 Laughter and hearts so high
That the spirit flew off free,
Lifting into the sky
Diving into the sea;
 Oh day of fire and sun
Like a crystal burning,
Slow days go one by one,
But you have no returning.

 -Sara Teasdale

30.6.13

Um Fado: Palavras Minhas

Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
 em olhos que eram meus, e mais felizes.

Palavras que disseste e que diziam segredos
que eram lentas madrugadas, promessas imperfeitas,
murmuradas enquanto os nossos beijos permitiam.

Palavras que dizias, sem sentido, sem as quereres,
mas só porque eram elas que traziam a calma das estrelas
 à noite que assomava ao meu ouvido...

Palavras que não dizes, nem são tuas,
 que morreram, que em ti já não existem —
que são minhas, só minhas, pois persistem na memória
que arrasto pelas ruas.

- Pedro Tamen, in “Tábua das Matérias”

5.6.13

Contos do Baralho de Cartas (1)

Certos gajos não conseguem perpetuar a vida sem ter alguém, e o mesmo alguém, na cama todas as noites. Pode ser outro alguém novo, ou até um alguém que vá sendo vários alguéns de ano para ano, mas certos gajos fenecem e acabam por deixar a mesa de jogo quando não têm alguém na casa, que é onde fica a cama, todas as noites. Um dia ouve-se o Tim Booth cantar as pastagens azuis pela enésima vez e o poema certo ocorre, trocando uma porta por outra. As diferenças, então, residirão naquilo em que sempre residiram: na elegância e no método.

26.5.13

Hipotética Epístola do Adeus

Tu,

Não sei porque me dou ao trabalho de escrever-te.

Nestes anos fomos do puro Céu ao viperino Inferno. Tu não dominas o teu feitio. Eu sinto que não me mereces. Tu esperas do alto das tuas certezas que o caminho te seja dado de bandeja, com os caminhantes laudando-te os passos com vénias. Tiveste-os e assim os esbanjaste, a todos sem excepção.

Onde havia o desejo e a paixão que me fizeste sentir, salvando-me, ou a ambos, de um destino igualmente mau mas precoce, eu impossibilitado pelos abusos que fui engolindo deixei crescer o carinho, o afecto, a protectividade, a promessa eterna de que os meus dias seriam teus.

Não te bastou, como nunca te basta, porque a razão para que nunca peças desculpa é, naturalmente, que só pedes quando achas que deves pedir.

Não há volta a dar, nesta nossa última fase eu esperava de ti o que nunca foste capaz de edificar comigo ou com qualquer outra pessoa: a humildade de perceber que o tempo nos leva avanço, que nos dias - quentes ou frios - ter alguém que um dia escolhemos e que se dispõe a finar-se ao nosso lado de peito cheio por ver, na derradeira hora, o rosto amado, isso é impagável.

Não se retribui com arremessos escarninhos meia década de verdadeiro sacrifício em nome dos teus desígnios juvenis e malabaristas. É de mau tom.

Apesar de tudo, quando saíste ainda diria a quem me perguntasse: sim, claro que a amo. Depois de ouvir na tua voz, hoje, o que ouvi, não poderia sequer pensá-lo.

Mas gosto muito de ti, apesar de saberes tão bem como eu que nos pratos da Grande Balança o lote dos estragos causados a todos é da tua quase exclusiva responsabilidade. Não tive forças para apascentar o teu carácter recalcado e controlador. Quis ser aquilo com que sonhavas, e tornei-me uma sombra daquilo com que sonhei.

Só te quero Bem. De uma forma muito especial poderás sempre contar comigo, ainda que possas pretender estraçalhar-me em nome dessa ilusão de independência e de juventude que te persegue desde aquele ano do qual nem tu, nem eu, nada percebemos.

Um beijinho sincero de boa noite e de boa sorte. Tentei prover ao teu contento. Quiseste outra forma de felicidade. Não nos sentaremos juntos no banquinho que trouxemos, juntos com os nossos braços, quando a pele se enrugar, e já ninguém, filhos diletos da nossa erosão ou queridos amigos que nos dizem aquilo que queremos ouvir, vier contar-nos pela enésima vez a história do homem que foi atropelado em frente ao quiosque.

Mas eu, que em ti só procurei sorrisos, sentar-me-ei nele como se estivesses ali, sempre e para sempre, como no dia em que o trouxemos.