8.9.15

I could praise you once with beautiful words ere you came
And entered my life with love in a wind of flame.
I could lure with a song from afar my bird to its nest,
But with pinions drooping together silence is best.
In the land of beautiful silence the winds are laid,
And life grows quietly one in the cloudy shade.
I will not waken the passion that sleeps in the heart,
For the winds that blew us together may blow us apart.
Fear not the stillness; for doubt and despair shall cease
With the gentle voices guiding us into peace.
Our dreams will change as they pass through the gates of gold,
And Quiet, the tender shepherd, shall keep the fold.

- George William Russell

6.8.15

Navegar a intrincada malha de urbe, pós-urbe, meta-urbe e para-urbe que interliga o Cassapo com a Charneca de Caparica pode constituir um desafio colossal, cosmogónico mesmo, para o rural homem anti-hodierno que pugna por ser deixado em paz na forma activa, passiva, transitiva, utente e paciente.

Dito isto, chegar ao atrivm do restaurante Simão & Filhas, na Rua dos Castanheiros 58 (2815-311) é uma retracção epifânica que expurga todas as fugas passadas, presentes e hipotéticas à realidade: ali te sentas, ali te servem e comerás à saciedade da melhor e mais irregulada cozinha que esta tribo te pode dar.

A atenção e habitacularidade caseiras só encontram coisa que as sobrepuje no instante em que ao termo "sobremesa" é renovado o sentido etimológico, de dominar, compor, campear, encimar a tábula onde atempadamente e sem delongas ou perdas aquilo a que cheira, e que bem que cheira, se fez presente. Peço uma mousse de côco. Comparece límpida, leve, desaçucarada, fofa, aérea, natural, trazida com paixão e humor. 

É uma composição da mais primordial engenharia libertária. É uma ode ao bom gosto.

Ide ao Simão, que só serve almoços, sobretudo durante os dias tidos por úteis. A mim custa-me imaginar melhor troca de euros etéreos por conforto salvífico, e se agora em pleno estio é assim, mal posso esperar pela estação agreste.

3.8.15

no mapa do meu inferno pessoal
há um défice externo colossal
que corre termos no eterno tribunal
do Homem de bem, moderno e social

montículos de merda ocupam o ecran
a papoila, o punho, a coligação e o PAN
sente-se o atraso na epoca de incêndios
vermes cavam toca e preparam estipendios

desde que partiste, ha sempre um entrave
(faz agora dois anos que sobra uma chave)
para voltar à forma, a correr e àquele dia
em que nada faltava e nada mais queria

muito bom dia senhor passageiro
insira cartao, senha ou dinheiro
folgamos em sabe-lo medicado
viaje tranquilo à sombra do estado

atencao à passagem
de um comboio sem paragem
repleto de gentes felizes
contribuintes sem deslizes

nao conduza, a sua vida perdura
acautele uma velhice segura
1357 canais e chazinho de tilia
e talvez no fim um medico de familia

aceda toda a informacao oficial
pelo ar, em papel ou formato digital
e em prol das nossas belas criancas
registe-se ja no portal das financas

mesmo que a vida lhe pareca triste
lembre-se que ao menos o parlamento existe
usufrua em pleno dos dias mornos
antes de dar um tiro nos cornos

30.7.15

vilanela para a assembleia destituinte

mais um dia neste hemisferio oeste
nao ha ca nada que eu nao deteste
livros escritos por ladroes eleitos
numa praia urbana de lares desfeitos

outro round de calor insano está garantido
mães solteiras do cacém com o miolo ardido
e empresárias que só se vêm com marroquinos
mais um dia nesta terra de perfeitos suínos

mais um dia no calabouço inane do socialismo
a europa paga, o tuga gasta e reina o autismo
sucedem-se as selfies vãs por elogios baratos
os jornalistas cumprem o seu dever de mainatos

o messias a cavalo nos comodismos da cidade
conquista votos entronizando a mediocridade
o erário assegura o conforto mental de abortar
mais um dia neste limbo entre morrer ou matar

mais um dia na incerteza da hora H
a chuva, se existe, não anda por cá
os anestesistas de serviço acreditam
nas frases loucas dos idiotas que citam

ninguém nos inspira um sorriso
outro sinal claro de saturação
a manada segue tilintando o guizo
mais um dia à espera da destruição.

2.7.15

You shall thank your gods,
if they force you to go
where you have no footprints
to trust to.
You shall thank your gods,
if all shame on you they pin.
You must seek refuge
a little further in.
What the whole world condemns
sometimes manages quite well.
Outlaws were many
who gained their own soul.
He who is forced to wild wood
looks on all with new sight,
and he tastes with gratitude
life's bread and salt.
You shall thank your gods,
when your shell they break.
Reality and kernel
the sole choice you can make.

- Karin Boye

17.3.15

Young wills whine
like masterless spears.
Fear has hurled them
into space’s spheres.
Trembling with battle
and strength in surfeit
they seek targets to strike
they seek powers to worship.

But wills that ripen,
they become trees and strike root,
ready to shield
a land at your foot,
a small stretch of ground,
but necessary, like life,
where something precious grows,
torn by the winds’ strife.

If the glade seems narrow
against space without end
and the tree perhaps lifeless
against spears that blind,
then forget not the leaf
with its life-green colour,
and forget not the sap
that seethes through the marrow.

Be not afraid, be still
that harvest night,
when the voices say:
‘Your bounds are set.
You too shall be silent
among the watching faithful.
You also shall strike root,
and become tree, and ripen.’

- Karin Boye

2.3.15

under red and violet vespers
the wire coils scatter horseflies
lingering like tiny concertina suns

against the freshly painted (again)
wall where ivy and woe, not epitaph
have taken root - has anyone else

taken root as a hedge of evergreen
thorn, branch, leaf, bramble and spike
within, perpetual scorching air guides

most people raise colossal battlements
to keep the enemy abroad - finding peace
I build, improve, expand and fortify
so that the enemy remains within.

18.1.15

AN AUTUMN COTTAGE AT BASHANG

After the shower at Bashang,
I see an evening line of wildgeese,
The limp-hanging leaves of a foreign tree,
A lantern's cold gleam, lonely in the night,
An empty garden, white with dew,
The ruined wall of a neighbouring monastery.
...I have taken my ease here long enough.
What am I waiting for, I wonder.

-Ma Dai