23.2.07

Faz hoje, Nuno, dezassete anos e uma série de dias que estupidamente partiste. Terias hoje o dobro daquela idade, e teria sido contigo que bebera este café, ou talvez campeasses por outras paragens, como entre o sonho e o medo todos fizemos. Não julgues que esqueci a ventosa na tua testa, da qual fugias aos uivos tentando segurar as gotas de sangue da borbulha espremida, nem o teu andar de marinheiro num navio prenhe de raparigas por descobrir. Tanto mais saltaria contigo pelos campos onde construiram prédios cor-de-rosa. Foste tu aquele cuja expressão guardei todos estes anos, não mais eternamente três acima dos teus, mudo perante a resposta ao teu inquérito: "mas tu sabes o que representa isso?", dito acerca de um pão esvaziado à manápula de todo o seu miolo; veio a resposta do Pixotas, que ainda hoje Nuno dezassete anos e muitos dias depois de teres ido eu guardo como um tesouro - "trinta e sete e quinhentos".

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