4.9.07

(eu sei que é a terceira vez que meto aqui o poema que vem no final deste texto, mas compreendam que é por uma boa causa; a gerência pede desculpa. se acharem que há partes "just too corny" neste post, pensem três vezes e bebam uma água. até já.)




Querida,

já cheguei a casa. Hoje durmo com um gesto teu nos lábios: o telefonema de há pouco. Caído ali, sustentáculo de fantasmas que habitam as terras onde por um triz não teria eu próprio ido acabar, pensei em ti, telecinese impossível, e mandaste-me um séquito de anjos disfarçados de palavras. Fizeste a minha noite, conquistaste-me secretos torreões que vão capitulando, aos poucos inexoravelmente, sob a tua voz deliciosa, encantadora, frágua nos meus sentidos.

Estou apaixonado por ti, e sabes?, por nós. Pela beleza primordial que faz de base ao que a cada dia entendemos fazer - e nada mais nos move senão carinho, amor, atenção, afecto, uma Páscoa de nos querermos bem - pela intemporalidade rebelde e ousada do teu, sim, do teu amor. Porque o meu amor é negro como os destinos dos homens, vermelho como a carne traidora, e branco como as crianças que amamos. O teu... é das cores da vida, de todos os tons compreendidos entre o balbuciar de um bebé e o olhar sentido da mulher madura que o tempo te fez.

Estou tão bem contigo, por ti, para ti. Ligo-te mentalmente vezes sem conta para ouvir-te contar-me a última sensação, o próximo dia. Estalam crinas de unicórnios debaixo das minhas mãos trémulas com a recordação do teu sorriso que para mim será sempre inocente.

Aqui tens um poema do Vian.

É por demais curioso que o sentido que dele retiro, hoje, se encontre nos antípodas daquilo que me cativou aquando da primeira vez que o li. Nessa altura, estava-me nas tintas porque lá fora, escondida, andarias tu e os néscios imperavam, contentes. Hoje os néscios ainda reinam, cada vez mais galhardos, inchados, impunes; mas tu estás comigo, descobriste-me nas portadas do sonho e eu sucumbo, sucumbo todos os instantes ao somatório das coisas que me fazes sentir.

Não quero viver sem ti e quero que saibas que te acarinho, daqui tão longe separados por um rio e por essa massa amorfa que faz as cidades, que te acarinho como se fosses a mais terna, frágil e imprescindível pétala, que brotando contra todos os Invernos vem declarar ainda outra batalha ganha contra a entropia, ainda um gesto de amor.

És a flor que me deixa a chorar quando entre os humores, a paixão e o futuro dou comigo a sorrir para a tua fotografia.

E a banda sonora não pode ser dita.


Ils cassent le monde

Ils cassent le monde
En petits morceaux
Ils cassent le monde
A coups de marteau

Mais ça m'est égal
Ca m'est bien égal
Il en reste assez pour moi
Il en reste assez

Il suffit que j'aime
Une plume bleue
Un chemin de sable
Un oiseau peureux
Il suffit que j'aime
Un brin d'herbe mince
Une goutte de rosée
Un grillon de bois

Ils peuvent casser le monde
En petits morceaux
Il en reste assez pour moi
Il en reste assez
J'aurai toujours un peu d'air
Un petit filet de vie
Dans l'oeil un peu de lumière
Et le vent dans les orties

Et même,
même s'ils me mettent en prison
Il en reste assez pour moi,
il en reste assez
Il suffit que j'aime
Cette pierre corrodée
Ces crochets de fer
où s'attarde un peu de mon sang
Je l'aime je l'aime
La planche usée de mon lit
La paillasse, le châlit
La poussière de soleil
J'aime ce judas qui s'ouvre
Ces hommes qui sont entrés
Qui s'avancent, qui m'emmènent
Retrouver la vie du monde
Retrouver la couleur
J'aime ces deux longs montants

Ce couteau triangulaire
Ces messieurs vêtus de noir
C'est ma fête, je suis fier
Je l'aime, je l'aime
Ce panier rempli de son
Où je vais poser ma tête
Oh je l'aime, je l'aime
Je l'aime pour de bon

Il suffit que j'aime
Un brin d'herbe bleue
Une goutte de rosée
Un amour d'oiseau peureux
Ils cassent le monde
Avec leurs marteaux pesants
Il en reste assez pour moi
Il en reste assez, mon coeur

- Boris Vian

Sem comentários: