Olá xxxxxxx,
não consegui apanhar-te ao telefone.
Foi um dia de excepção, daqueles em que algo faz clic, em que se passa de nível e o écran seguinte assoma como sabemos que assomaria tarde ou cedo, mas não sabemos porquê ou por que mecanismo.
O meu filho levantou-se depois de mim, deu-me um beijinho grande e serviu-se do pequeno-almoço, pondo a mesa e chamando-me quando tudo estava pronto.
Derivámos pela casa como jangadas pelos restos dos sonhos.
Deixei-o na aula de guitarra e sentei-me numa taberna, a ler o Público, no meio dos velhos que se agarravam a migalhas de vinho tinto como a estórias de antanho. Senti-me bem e não quis mais do que aquela cadeira.
Almoçámos com a mãe dele, cordialmente e a saber a sessões de cinema que serão sempre cosidas a fio de responsabilidade. Fui cortar o cabelo e comprar umas coisas, ela trouxe-mo depois já eu te tinha escrito algumas palavras soltas.
Fez os seus trabalhos, praticou o exercício recomendado, pegou num livro ilustrado sobre método científico e eu estive sempre ali, a esclarecê-lo. Depois fiz galinha com caju e arroz de feijão do dia anterior, rimo-nos e lá fomos deixando a noite pousar.
Agora estou a escrever-te isto porque ainda quero mais filhos e confio muito na minha teimosia.
E porque se há coisa que não hei-de permitir, é que o tempo passe por mim sem levar três ou quatro abanões naqueles colarinhos, esse pulha, o gajo.
A ver se te ligo ainda hoje. É que tenho saudades.
Não escrevia há uma pipa de dias.
Obrigado.
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