28.4.06

watching my birthdate fly
on a red led train marquee
under the octagonal gaze
of some otto or sergei
stasi henchman asleep
over yesterday's news
half expecting to find
something other than creole
acronyms over bluetooth
we are all finders
keepers lepers
leeches breeders
and the sun sets, never down
if your eyes come back at me
for lunch and lost maidenhood
wouldn't you say we're
not
getting old?


and again

and again

and again

on and on

up the ass of darkness.

27.4.06

noticed how a mighty we
how sails along in heys
and whaddayaknows
all burnsnotchinese
hes and shes ees
packs of hikikomori is
turned rockbottom keys
Dado a ouvir nas forjas do silêncio.
não esperes por nada
a expectativa é o sufoco da alma
vai pela rua fervilhando distante
cada minuto atropelando o seguinte
não entregues a tua velhice à ilusão
de um tempo feito por homens amorfos
não temas quando o silêncio surgir -
sobretudo que nada te faça curvar,
é imperativo que vás por aí -
procura apenas mais uma alvorada.


(--> T.)

25.4.06

antes da palavra

hesito muito antes da palavra.
porque um precipício se abre nela
e não tem sentido, vibra apenas.
porque pode ser a morte
ou o nascimento para um lugar
de cores e fadas e barcos de sol.
porque me doem as mãos
cada vez que tento segurar
o mundo em traços redondos quadrados.

por isso te digo: hesito e morro e nasço.
e corro para a rua com força de quem
vai anunciar gritar chamar dizer.
mas lá fora sorrio apenas
enquanto caminho para um banco
de jardim, devagarinho,
como se por um momento
eu soubesse o nome de tudo
e tudo tivesse o mesmo nome.


-Vasco Gato
Ignorance

Strange to know nothing, never to be sure
Of what is true or right or real,
But forced to qualify or so I feel,
Or Well, it does seem so:
Someone must know.

Strange to be ignorant of the way things work:
Their skill at finding what they need,
Their sense of shape, and punctual spread of seed,
And willingness to change;
Yes, it is strange,

Even to wear such knowledge - for our flesh
Surrounds us with its own decisions -
And yet spend all our life on imprecisions,
That when we start to die
Have no idea why.

- Philip Larkin

24.4.06

[14:34] *Luana> Boa tarde :)
[14:35] *Luana> Dorme-se p aqui?
[14:39] *Ringthane> nao
[14:39] *Ringthane> transcreve-se o moleskine a golpes de tinto.
salta da cama no chão com um uivo
barbeia-te a golpes de guitarra
torna os pelos cabides em lavagem a frio
abrealata
abre a lata preta
densa como estrelas mortas de cio
NO CENTRO DO MUNDO
dança nas quatro patas porta fora
calado
e toca piano nas moléculas do ar
um dia
um dia aqui há uns anos
já eras velho e não deste por isso.
juntos em tudo
na paisagem sem pressa
ritmo nos teus ouvidos
em terra de espelhos
negros aos pares
o teu cabelo caído
o teu olhar na estação
eclipse cardíaco em fuga
todos juntos a velha o cão e eu
somos bandas sonoras
somo deus a envelhecer dividido
a tempos diferentes
na cama onde acordaste sozinha.

22.4.06

(reprise)

.
.
Ils cassent le monde
.
Ils cassent le monde
En petits morceaux
Ils cassent le monde
A coups de marteau
.
Mais ça m'est égal
Ca m'est bien égal
Il en reste assez pour moi
Il en reste assez
.
Il suffit que j'aime
Une plume bleue
Un chemin de sable
Un oiseau peureux
Il suffit que j'aime
Un brin d'herbe mince
Une goutte de rosée
Un grillon de bois
.
Ils peuvent casser le monde
En petits morceaux
Il en reste assez pour moi
Il en reste assez
J'aurai toujours un peu d'air
Un petit filet de vie
Dans l'oeil un peu de lumière
Et le vent dans les orties
.
Et même,
même s'ils me mettent en prison
Il en reste assez pour moi,
il en reste assez
Il suffit que j'aime
Cette pierre corrodée
Ces crochets de fer
où s'attarde un peu de mon sang
Je l'aime je l'aime
La planche usée de mon lit
La paillasse, le châlit
La poussière de soleil
J'aime ce judas qui s'ouvre
Ces hommes qui sont entrés
Qui s'avancent, qui m'emmènent
Retrouver la vie du monde
Retrouver la couleur
J'aime ces deux longs montants
.
Ce couteau triangulaire
Ces messieurs vêtus de noir
C'est ma fête, je suis fier
Je l'aime, je l'aime
Ce panier rempli de son
Où je vais poser ma tête
Oh je l'aime, je l'aime
Je l'aime pour de bon
.
Il suffit que j'aime
Un brin d'herbe bleue
Une goutte de rosée
Un amour d'oiseau peureux
Ils cassent le monde
Avec leurs marteaux pesants
Il en reste assez pour moi
Il en reste assez, mon coeur
.
- Boris Vian
.
.


(--> M.M.)
«I love my dreams», I said, a winter morn,
To the practical man, and he, in scorn
Replied: «I am no slave of the Ideal,
But, as all men of sense, I love the Real.»
Poor fool, mistaking all that is and seems!
I love the real when I love my dreams.

- Alexander Search

(--> Pete)
Under these silent rains
Break five or ten wavelets
of city and life
of silent respite
Open the gates
Reach for an ember
like symbols of life
like signs of rebirth
kiss away
a channel for the pain
and look up to forever.

(--> Marta)


Take my hand,
Hurray for the winters come.
Cease my plans
Excuse me from the scenes of old.


HEADLIGHTS
(Sullivan/Heaton/Nelson) 1995

Lit up like a Christmas tree, the oil refinery glows in the night;
and down by the shoreline the seagulls fly white, against the black.
The great moon riding shotgun - rolling out across the veil of clouds,
and you were small, and lying awake listening to the noises in the house.
With the best of them you ran, like all of us, in our season
Casting memory aside - your history, all forgotten;
driven onwards through the years in love with each distraction.
But all the while, the past is close behind;
like headlights on your tail, headlights on your tail.

Your pulse is beating faster now, like a bird flying hard against the wind;
trying to understand all the crazed compulsions that you feel.
And all the little jealousies and betrayals, they echo in the dark;
and somewhere back through it all, the key is still turning in the lock.
Now the ghosts that you have laid, they all come out to greet you;
the knowledge that you've gained - well, none of this protects you.
You've been so very far, still peace will not embrace you,
for all the while the past is close behind.
Like headlights on your tail, headlights on your tail.

We are so very fucked.


I reiterate: we are fucked.

Anda tudo ao mesmo.

21.4.06

A invenção do amor (exc.) - Daniel Filipe

Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos
autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e
detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança
de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem e uma mulher um cartaz denuncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o
mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique Antes
que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos
Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade

É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas

Fechem as escolas Sobretudo
protejam as crianças da contaminação
uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado
aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade

Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das normas de discriminação
racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas

...

É possível que cantem
mas defendam-se de entender a sua voz Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
lhe lembravam a infância Campos verdes floridos
Água simples correndo A brisa das montanhas
Foi condenado à morte é evidente É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta

...

Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência

Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua
Eu tenho os seguintes direitos:

1. Pedir o que quero. Reconhecendo que os outros têm o direito equivalente
de dizer não.
2. Ter as minhas opiniões e valores e de as exprimir.
3. Tomar consciência das minhas opiniões e ser capaz de mudar de ideias.
4. Tomar as minhas decisões e assumir as consequências.
5. Declinar toda a responsabilidade pelo destino e problemas de outras
pessoas.
6. Ter a minha privacidade, de estar sozinho e ser independente.
7. Dizer "Não quero saber nem perceber".
8. Ser afirmativo e no entanto mudar-me.
9. Relacionar-me com outros sem estar dependente da sua aprovação.

Falsas crenças auto-destrutivas a evitar:

a) Tenho que ser apreciado por todos
b) As pessoas devem gostar de mim
c) Devo ser perfeito em tudo o que faço
d) Todas as pessoas com quem vivo e trabalho devem ser perfeitas
e) Tenho pouco ou nenhum controle sobre o meu destino
f) É melhor evitar as dificuldades
g) A discórdia e o conflito são desastres destrutivos a evitar a todo o
custo
h) As pessoas, incluindo eu próprio, não podem mudar
i) Algumas pessoas são sempre boas, outras sempre más
j) O mundo deve ser perfeito e é inaceitável que o não seja
k) As pessoas são frágeis e devem ser protegidas da verdade
l) As pessoas existem para me fazer feliz
m) As crises são invariavelmente más e nada de bom pode vir delas
n) A solução perfeita existe, tudo o que tenho a fazer é procurá-la
o) Ninguém, incluindo eu, deve ter problemas, estes revelam incompetência
p) Só há uma maneira verdadeira de ver as questões

18.4.06

tal como a verdade, o amor é uma adequacao entre o pensamento e a realidade.
[21:51] nao pares. acende mais um cartucho, abre outro copo, parte mais uma porta
[21:52] agarra-te a mais alguem, a um espelho novo a cantos parados e ruços
[21:52] olha-te outra vez à luz de um grito
[21:52] e se depois disso
[21:52] ainda por acaso
[21:52] por mero acaso
[21:52] e obra do nada
[21:52] quiseres manter o que dizes
[21:52] xuta a bola
[21:52] foge para a frente
[21:52] atira foguetes
[21:52] apanha as canas
[21:52] faz uma festa na rua
[21:52] e diz o teu nome
[21:52] baixinho
[21:52] baixinho
[21:53] e ri-te
[21:53] sozinha
[21:53] loucamente
[21:53] antes de abrires os olhos e ver a rua em tons de branco.
meistens ist es morgens
meine haende zittern
mein gesicht
es gehoert mir nicht
wasser! -- wirkt fast wie ein schock darin
ich nehme es nicht lautlos hin
selbstportrait mit kater

was habe ich?
was habe ich nicht?
was habe ich gesagt?
ich weiss es nicht mehr
ich habe getan was ich konnte
die welt zu entzweifeln
bis kein tropfen gewissheit
mehr uebrig war
nicht das in meiner erinnerung
etwas fehlt
bis mir auffaellt
das da eine luecke klafft
zwischen den naechtlichen exerzitien
und dieser meiner jetzigen agonie

selbstportrait mit kater

zwischendurch war ich bereit zu staunen
der grosse treibstoff
zur rotation um die eigene achse
ich drehte mich um und um und um
in meinem taumelnden mittelpunkt dieses geschehens
in das es mich hier nun mal verschlagen hatte
in einer art von trunkenem universum
das unverantwortlich leer und sinnfrei
rueberkam in schueben
altbekannten grinsenden wiederholungen
also nicht alles hier war meine schuld
wenn in dieser kaelte schuld ueberhaupt noch
denkbar waere -- jawohl!

selbstportrait mit kater

alle sterne waren entlegen
standen am himmel
wie nadelstiche
die nacht belichtete ein mond
der aussah wie bedeckt mit lebensmittelschimmel

selbstportrait mit kater

ich reckte meinen hals
streckte meinen kopf
in den reissenden strom der gedanken
stromschnellen
unter strom
land unter
den festen tatsachen, annahmen und spekulationen
ich spitzte meine ohren
just to hear that there was nothing here to hear
nichts als ein rauschen
und das nicht mal weiss
ich weiss nicht einmal
was ich gestern an der stelle noch wusste
der rausch ist die wurzel des geraeuschs
ich wollte am ende die bilder und alles andere erbrechen
aber darueber war ich wohl schon lange lange lange hinaus
blotto!

selbstportrait mit kater

alles leben ist ein tanz
und in meinem schaedel wird heute heftig ein charleston getanzt
ich habe teil an dem einen grossen kopfsxchmerz
der ganze kosmos ist ein kopfschmerz
und ich nehme teil

selbstportrait mit kater

was ich sehe am morgen hat wenig mit mir zu tun
mich ziert ein schwarzer strich auf meinen lippen
und der spricht baende
fuseloele aldehyde restalkohol
ich glaube ich rufe den chinesischen arzt gegenueber an
der soll meine leber schroepfen oder so
ich bin gehuellt in ein hoechst fragiles nervenkostuem
in ein hoechst fragile noch dazu transparentes nervenkostuem
doris day

selbstportrait mit kater

astronomen haben den schnaps im weltall entdeckt
irgendwer er oder sie haben ihn hinter intergalaktischen wolken versteckt
wahrscheinlich zur sicherheit von schoepferischer hand markiert
damit die weltraumpflegerin sich nicht selbstaendig daran delektiert
fuer mich reissen irgendwann die wolken auf
und die schoenen frauen die dahinter warten
fuettern mich mit wahrhaftigen trueffeln
traenken mich endlich mit der essenz
ihrer himmlischen erscheinung
bis alles um mich herum rubinrot leuchtet
ich treibe inzest mit den sternen!
ich treibe inzest mit den sternen!
life on other planets is difficult!




Selfportrait with Hangover

It's often in the morning
my hands are shaking
my face
it doesn't belong to me
Water! -- comes nearly like a shock to me
I can't take it quietly

Self-portrait with hangover

What do I have?
What don't I have?
What did I say?
I don't remember!
I did all I could
to settle the world's doubts
till no drop of certainty
was leftover
Not that in my memory
I feel a gap
until I notice
that there is a yawning void
between my nightly exercitations
and my present agony

Self-portrait with hangover

At some stage I was ready for astonishment
The great fuel
for the rotation around one's own axis
I turned round and round and round
the reeling center of this
incident
in which I had just ended up here
in a kind of drunken universe
that irresponsibly empty and senseless
took hold of me in phases
long-known grinning repetitions
So not all of this was my fault
if in this cothere still could be
guilt -- indeed!

Self-portrait with hangover

All the stars were out of the way
they were in the sky
like pinpricks
The night lighted by a moon
that seems to be covered by
food mold

Self-portrait with hangover

What I see in the morning has little to do with me
I'm decorated with a black line on my lips

and that says a lot
fusel oil, aldehydes, residual alcohol
Maybe I should call the Chinese doctor from across
perhaps he should leech my liver or else...
I am covered by a highly fragile
nerve fabric
in a highly fragile and even transparent nerve fabric
Doris Day!

Self-portrait with hangover

Astronomy has discovered the schnapps in space
Someone he or she had hidden it behind intergalactic clouds
probably marked for safety by a creative hand
so the space cleaning lady will not take delight in it
Sometime the clouds will breakup for me
and the beautiful women waiting behind
feed me with truthful truffles
Finally water me with the essence
of their heavenly appearance
until everything glows ruby red around me

I commit incest with the stars!
I commit incest with the stars!
Life on other planets is difficult!



(antes que venha o Nuno... Einsturzende Neubauten - Selbstportrait mit Kater)

[21:39] eu nao passo de uma besta romboedrica com tiques de rebelde sem causa.
[21:40] sou um educated truck driver que sabe dar 3 sentidos diferentes a "bauhaus"
[21:40] e pronto.





Enquanto não me aparecer alguém que demonstre, alternativamente, ou que reincarnamos ou que vivemos para sempre, isso será para mim assunção q.b. de que só temos uma vida. Logo, (a haver Deus ou por respeito a nós mesmos) querer menos que tudo será sinal de imaturidade, a não ser que não se queira nada, e esse seria o estado supremo, que não ouso presumir.

Origem, trajecto e destino valem o que valem. Quando olhas para uma fogueira, o que te prende é o instante. Este, o seguinte e o que de repente se tornou anterior.

3.4.06

...

Larga a cidade masturbadora, febril,
rabo decepado de lagartixa,
labirinto cego de toupeiras,
raça de ignóbeis míopes, tísicos, tarados,
anémicos, cancerosos e arseniados!
Larga a cidade!

Larga a infâmia das ruas e dos boulevards,
esse vaivém cínico de bandidos mudos,
esse mexer esponjoso de carne viva,
esse ser-lesma nojento e macabro,
esse S ziguezague de chicote autofustigante,
esse ar expirado e espiritista,
esse Inferno de Dante por cantar,
esse ruído de sol prostituído, impotente e velho,
esse silêncio pneumónico
de lua enxovalhada sem vir a lavadeira!
Larga a cidade e foge!
Larga a cidade!

Vence as lutas da família na vitória de a deixar.
Larga a casa, foge dela, larga tudo!
Nem te prendas com lágrimas que lágrimas são cadeias!
Larga a casa e verás -- vai-se-te o Pesadelo!
A família é lastro: deita-a fora e vais ao céu!
Mas larga tudo primeiro, ouviste?
Larga tudo!

-- Os outros, os sentimentos, os instintos,
e larga-te a ti também, a ti principalmente!
Larga tudo e vai para o campo
e larga o campo também, larga tudo!
-- Põe-te a nascer outra vez!
Não queiras ter pai nem mãe,
não queiras ter outros nem Inteligência!
A Inteligência é o meu cancro:
eu sinto-A na cabeça com falta de ar!
A Inteligência é a febre da Humanidade
e ninguém a sabe regular!
E já há inteligência a mais: pode parar por aqui!

Depois põe-te a viver sem cabeça,
vê só o que os olhos virem,
cheira os cheiros da Terra
come o que a Terra der,
bebe dos rios e dos mares,
-- põe-te na Natureza!
Ouve a Terra, escuta-A.
A Natureza à vontade só sabe rir e cantar!

Depois, põe-te à coca dos que nascem
e não os deixes nascer.
Vai depois p'la noite nas sombras
e rouba a toda a gente a Inteligência
e raspa-lhes bem a cabeça por dentro
co'as tuas unhas e cacos de garrafas,
bem raspado, sem deixar nada,
e vai depois depressa, muito depressa,
sem que o sol te veja,
deita tudo no mar onde haja tubarões!
Larga tudo e a ti também!
...

- Almada Negreiros

2.4.06

The Logical Conclusion

When earth's last thesis is copied
From the theses that went before,
When idea from fact has departed
And bare-boned factlets shall bore,
When all joy shall have fled from study
And scholarship reign supreme;
When truth shall "baaa" on the hill crests
And no one shall dare to dream;

When all the good poems have been buried
With comment annoted in full
And art shall bow down in homage
To scholarship's zinc-plated bull,
When there shall be nothing to research
But the notes of annoted notes,
And Baalam's ass shall inquire
The price of imported oats;

Then no one shall tell him the answer
For each shall know the one fact
That lies in the special ass-ignment
From which he is making his tract.
So the ass shall sigh uninstructed
While each in his separate book
Shall grind for the love of grinding
And only the devil shall look.

-Ezra Pound