8.11.06



A cremação estava prevista
para o início da tarde.
(Ao fundo, o Tejo,
o vasto fedor dos vivos.)

Mais do que o Requiem,
comoveu-me
voltar a ver a fotografia
em que segurava o cão e sorria.
Ainda me mordeu algumas
vezes, o Sancho;
agora não existe
-e o Sérgio também não.

Pequeninas caveiras,
esculpidas nos anos vinte,
vigiavam soberanamente
a falta de jeito dos vivos:
tosse, palavras ocas,
furtivos cigarros. Talvez
a nossa única vocação
seja mesmo morrer.

Cidade real,
lixo das quimeras todas,
não ouças uma voz que não existe.

-Manuel de Freitas

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