"Não olhes para trás, o fim é sempre um príncipio para todos aqueles que nasceram com asas...
Os prados eram azuis porque a luz do azul da manhã não deixava existir outra cor. As azedas que cobriam os campos, as papoilas. Noutras alturas o trigo crescido e nós em sonhos a correr e a fazer nascer seres por entre o trigo crescido. Os nossos sonhos são sempre da intensidade desse azul, em qualquer momento do dia, em qualquer estação, com qualquer luz ou escuridão, em qualquer idade.
É lindo quando temos 15 anos e cantamos ‘somewhere over the rainbow’, mas ainda que visualmente muito menos belo, tem a mesma beleza quando a cantamos aos 80. Temos algo em nós, criado entre a memória do riso e a força de cada sonho a nascer, que nos fará sempre acreditar que num qualquer lugar, muito além do arco-íris...
Sabemos depois todas as histórias, nossas e dos outros, e os nossos lugares de infância misturam-se com Combray, e com todas as imagens e lugares das personagens que passaram a viver connosco. Sabemos mais que bem (o feiticeiro de oz, Peter Camezind, O que diz molero) que todas as voltas ao mundo que dermos nos trazem ao mesmo e único lugar: o primeiro, o nosso.
Mas nada disso toca a força de cada sonho novo a nascer, como nenhuma conquista alguma vez tocará a nossa aspiração.
É este o barro, em que as palavras e as ideias ficam sempre à flor da pele, e são as emoções que ditam, sempre, sempre, cada derrocada e cada erguer do nada. Por mais que nos digamos velhos, corroídos pela desilusão, somos sobretudo e sempre um fantoche nas mãos da ilusão."
(não é meu, é aqui da alice)
When I hear music, I fear no danger. I am invulnerable. I see no foe. I am related to the earliest times, and to the latest.
- Henry David Thoreau -
Condensing fact from the vapor of nuance since 2003
28.5.04
Ainda tenho as tuas feridas. Hoje passei pelas bandas sonoras, parei nos sinais vermelhos como se lançasse raízes aos centímetros de estrada que ficavam para trás. Soube-me bem a janela aberta durante a noite, o luar que invadia o meu sono profundo, o primeiro desde há muitos meses. Ainda tenho as farpas que rasgam a carne quando os céus estão azuis, aquele azul esverdeado como algas, sarapintado em grãos de areia onde o sol beija a pele. Ainda tenho os teus olhos cravados na nuca, arde-me o peito quando acordo sem ti, se eu pudesse queimar um planeta com esta angústia que me preenche.
Hoje fiz o caminho como uma bela palmeira. Fomos a rir e a conversar sem pressas, não quis pensar que teria que vir para aqui, para o meio dos loucos, cair sem amparo entre a corja amorfa e cinzenta. Também isto me soube bem, e olha, a raiva e a náusea e a peste e os vaipes de revolta já são folhas da mesma árvore, já são cores no meu tapete e não tomam conta dos momentos, é que mesmo assim não tiveste razão. Corta-se uma vida ao longo dos anos, sobretudo à sexta-feira, com as facas do desespero.
Aqui não se respira o mesmo ar que tu e eu partilhámos. As pessoas são curtas, finas, rasas, e o pavor leva-as a apedrejar os cães que ladram em tons diferentes. É uma casa difícil, esta que me guarda as costelas enquanto ando por aí. Vais gastar um pouco mais do teu sangue, outras quantas certezas, e acabas por acordar numa manhã como esta.
As nuvens continuam a ser nuvens, e dos dias confusos só tenho as tuas feridas. Preciso de pouco mais para voltar a pintar esta praia com as cores da paixão.
Hoje fiz o caminho como uma bela palmeira. Fomos a rir e a conversar sem pressas, não quis pensar que teria que vir para aqui, para o meio dos loucos, cair sem amparo entre a corja amorfa e cinzenta. Também isto me soube bem, e olha, a raiva e a náusea e a peste e os vaipes de revolta já são folhas da mesma árvore, já são cores no meu tapete e não tomam conta dos momentos, é que mesmo assim não tiveste razão. Corta-se uma vida ao longo dos anos, sobretudo à sexta-feira, com as facas do desespero.
Aqui não se respira o mesmo ar que tu e eu partilhámos. As pessoas são curtas, finas, rasas, e o pavor leva-as a apedrejar os cães que ladram em tons diferentes. É uma casa difícil, esta que me guarda as costelas enquanto ando por aí. Vais gastar um pouco mais do teu sangue, outras quantas certezas, e acabas por acordar numa manhã como esta.
As nuvens continuam a ser nuvens, e dos dias confusos só tenho as tuas feridas. Preciso de pouco mais para voltar a pintar esta praia com as cores da paixão.
Subscrever:
Mensagens (Atom)