31.12.04

2.

A mãe do meu filho disse-lhe "isso foi lá, não foi cá, os mortos estão longe, a onda não se abateu aqui, não te rales".

Renego, repudio e reconstruirei esta idéia na sua mente, porque graças a tudo que o posso fazer em igual medida, temporal e de credibilidade.

Foi cá, foi ali, ao virar da curva, os países, o dinheiro, o sistema, as sociedades, tudo o que se vive entranhado e se quer perpetuar, são vícios mesquinhos que um dia alguém criou ao transformar a luta contra o trauma do nascimento, essa peleja de cada um, numa máquina de fomentar o elitismo. Agora não se desliga.

Não haja países, nem sistemas.

E sim, foi ali, foi cá e ele vai saber que podia ter sido aqui em casa, e connosco, e que nunca, jamais, deverá viver centrado em conceitos estreitos e curtos e rasos como preconizam os néscios, os pueris, os que só querem nascer uma vez e não usam a centelha que lhes é oferecida para dela fazer alma. Porque o que não se utiliza, a nível bioenergético, biológico, intelectual, desaparece.

Nasçam então uma só vez e não me lixem o juízo. Tenho uma descendência a assegurar e deles há-de ser a mão que há-de escrever tantas páginas no livro da sabedoria como os delírios que me assomam em cada milímetro cúbico desta noite porreira, calma, minha.

Sem comentários: