31.1.07

Ouço habitualmente uma estação de rádio cá da praça entre as 08:15 e as 08: 45, à medida que conduzo. Produz-me um efeito consideravelmente hilariante, em particular a audição dos boletins relativos à abertura da Bolsa de Valores - mas não só, também reconheço o valor, equiparado a três inalações profundas de óxido nitroso, dos informativos horários que abrem com notícias da pseudo-bola ou com a última alarvidade do cacique do Funchal.
No tocante à Bolsa sou levado ao limiar da convulsão quando dia após dia os deslumbrados comentadores, fresquinhos e ainda verdes com apenas 5 ou 10 anos com a canga corporativa azul-escura à volta da traqueia, ululam histéricos a celebração de "mais um dia em que o PSI20 abre forte em terreno positivo, a ganhar 0.02% [sic, sic, sic]" e daí rebolam desfiladeiro abaixo, em exercícios de onanismo analítico capazes de reduzir um qualquer ibn Sabbah à sua expressão mais simples.
Contudo, esta manhã o absurdo conheceu (no sentido bíblico do termo) caminhos onde nunca anteriormente nenhum homem havia ousado ir... o comentador de serviço declarou, pomposamente, no preciso instante em que o meu carro parava num semáforo, "que as bolsas europeias estão em terreno negativo, exceptuando o PSI20 que se aguenta, e só está a perder -0.02%"...
Como diz? :)
Eu repito, ok, ok, ok, eu repito.
Se ganha 0.02%, está forte, pujante, robusto, um ícone de solidez, o próprio avatar da prosperidade, sem dúvida impulsionado pela troca de papéis da Indústria de Torradeiras de Mafra ou outra luminária que tal; se em simetria perde 0.02% não se pode perder o sturm und drang histérico, faça-se o acto de uniformização, está neutro, aguenta-se, já não perde como os outros.
Provincianismo, ilusão e perigo, muito perigo.

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