31.7.08

Adenda ao Top 5


O objectivismo. Já me esquecia.



O "argumento randiano" substitui Deus como pedra basilar do seu sistema, colocando a vida nesse papel. "Vida", aqui, não tem nenhum sentido transcendental. A base da ética objectivista assenta na observação deste valor básico comum a todos os indivíduos. Morta, uma pessoa não atribuirá valor a nada. A vida é uma condição necessária para a avaliação ética de escolhas e acções. Não é, contudo, uma condição suficiente. Uma pessoa pode subsistir ao nível mais básico, como um animal, mas só o uso activo da sua faculdade racional permite-lhe ter um entendimento de que escolhas e acções são conducentes à preservação da sua vida, no imediato e a longo prazo. No contexto de uma existência social, política, este entendimento é essencial. Temos assim que os principais contributos do cristianismo para a sociedade moderna*, o livre-arbítrio e a alma individual, permanecem válidos segundo o "argumento randiano", mesmo retirando Deus da equação. A primeira escolha que uma pessoa deve fazer é impreterivelmente a de viver. A sua sobrevivência não é automática. Acto contínuo, deve escolher e julgar as suas opções em função do impacto na sua vida. Isto é o exercício do seu livre-arbítrio. Além disso, a escolha é individual. A opção de fazer uso da faculdade racional não pode ser imposta. Uma pessoa pode, concebivelmente, escolher "não pensar", viver como um selvagem. Ou em qualquer patamar intermédio. Não existe aqui propriamente uma alma para salvar; mas há uma vontade individual de atingir, ou não, um grau de conforto consigo mesma.


* Pelo menos segundo a visão de Isabel Paterson, em The God of the Machine, que identificou três marcos fundamentais no caminho da barbárie para a sociedade moderna (leia-se democracia liberal e capitalismo): A descoberta da ciência pelos gregos, que possibilita a análise do conhecimento e, por extensão, da acção política; a descoberta do direito pelos romanos, que permite criar um sistema abstracto que pode defender o indivíduo da arbitrariedade do "poder"; e, por fim, e talvez mais significativo, a descoberta cristã da alma individual, cuja salvação depende de si própria e do seu livre-arbítrio.

Sem comentários: