27.10.08

Abstracção

O Sancho (nome fictício) tem 12 anos e frequenta o 7º ano. Nunca chumbou até aqui.

A primeira percepção é de que o Sancho está sempre cansado, a pestanejar, e não se concentra. Inquirido, diz que dorme pouco porque tem muitas actividades: joga playstation, vai a festas, faz natação e passa algum tempo às compras com a mãe, e no cinema com o pai.

O Sancho sabe calcular a área dum triângulo, mas apresenta dificuldades acrescidas em fazê-lo sem a ajuda da calculadora (mesmo quando se trata de dividir 20 por 20) sobretudo porque não apreendeu, nas aulas, que a operação inversa da multiplicação é a divisão, e a da adição, a subtracção; ademais, se o triângulo aparecer desenhado numa perspectiva ou orientação diferente, o Sancho perde um tempo considerável a tentar interpretar o problema.

Foi demonstrado ao Sancho nas aulas de Matemática como converter metros cúbicos para litros, bem como foram recebidos alguns exemplos de reduções relativas a ordens de grandeza - centímetros para decímetros, etc.. Mas o Sancho não sabe ou não compreende porque é que não pode converter metros quadrados para metros cúbicos, nem decímetros para mililitros.

Saindo um pouco do âmbito estritamente académico, o Sancho até tem sorte porque particularmente tem um pai racional e uma mãe empenhada, que não são excessivamente laxistas por isso balizando tão responsavelmente quanto possível a evolução do seu filho. Mas o Sancho pertence, e isto é que assusta, a uma minoria de uns quantos 1% ou 2% da população estudantil, sendo que há ainda menos - muitos menos - alunos que estejam a maturar melhor do que ele.

O resto anda para aí a ver os Morangos e vão provavelmente crescer para serem economistas, gestores, jornalistas ou comentadores. Ou aparadores de relva em campos de golfe.

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