13.3.07

Carta à minha recém, de coração até-prova-em-contrário-enorme, interlocutora:



Pus a mesa para dois, in memoriam dos meus dias de Robert Kincaid quando tu, Francesca ainda derivavas noutro peito surdo. São fases: a Lua hoje não paira em ângulo raso entre a escola (ainda acesa) e o campanário onde repicam Sábados longos; nem do jardim sobem tinidos como em amigos soltámos, caçando ratazanas à pedrada num tempo distinto destes Governos que me preocupam.




Durante o jantar - maldita dieta do legionário, equilibrada com tanto quilómetro tonitruante por baixo das coxas - servi-nos na íntegra toda a carta que nem tu, nem eu ainda descobrimos ao lado de alguém, ou dos espelhos feitos colchão e almofada, para o que importa. Pareceu-me emanar um deleite sentido dos teus lábios, onde sempre entrevejo um sorriso inocente, quando provaste o primeiro trago da garrafa de tinto romeno, o último do espólio deixado na adega quando deixei Helsinki e outras famílias para trás, na neve, na eterna sauna de Deus numa Páscoa onde saneámos metade dos males. Lupu Negru, era essa a marca do vinho. O que rimos ainda antes do sonho só à conta do rótulo da garrafita.



Tudo terá, sem dúvida, a ver com a rota ao longo da qual quisermos envelhecer: tu e eu, num equilíbrio por vezes medonho salpicado de silêncios ferozes, e o resto do mundo menos todos os enormes bocadinhos que a História e o nosso livre arbítrio têm vindo aos poucos tornando uma parte vincada no holograma, o nosso leito irrespectivamente de quaisquer dissecações que possam aplicar-se aos pronomes.

É isto. Por causa de uma lata de tinta que nunca mais acabava, não pude responder-te hoje aquando do momento correcto. Mas durante a tarde, em piloto automático, imerso num pandemónio de gente mais e menos ávida de vincar a sua parte na placa invisível, lá se foi delineando ainda outra hora no compasso indelével.

Ainda me hás-de explicar porquê Ginger :)

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