24.10.07

Histórias para crianças, para ler por adultos - Viver


um conto de Nuno Santos Antunes

Dizem que a Lua está sempre lá no alto, lá no Céu, mas eu não acredito. Ainda hà pouco estava a olhar pela janela e vi-a descer e banhar-se nas àguas do Tejo. Estava linda, a sua cor de prata diluía-se no rio, depois subiu de novo e foi ganhar cor junto das estrelas, primeiro estava dourada, depois foi ainda mais alto e começou a ganhar de novo a sua cor prateada. Lá em baixo o rio ficou todo dourado, foi um presente que a Lua lhe deu.

Dizem que os rios correm para o mar, mas eu não acredito. Estou aqui entre dois rios e eles estão os dois juntos, nenhum deles quer sair dali, juntam-se os dois de noite para banhar a Lua e quando ela se vai ficam os dois a namorar e a apreciar as belas cores com que ficaram. De manhã acordam os dois juntos com o Sol e ganham uma cor nova, e todo o dia por ali ficam, felizes e contentes, sem vontade nenhuma de correr para o mar.

Dizem que o Sol nunca se apaga, mas eu não acredito. O Sol acende-se de manhã para pintar os rios, os mares, e a vida das pessoas. De noite ele apaga-se para deixar as crianças dormir.

Os meus Amigos dizem que a vida deve ser vivida muito intensamente dia a dia, mas eu não acredito. Eu acho que a vida deve ser vivida com e para as crianças, elas é que sabem o ritmo certo. Para as crianças não existe tempo, nem pressas, nem prazos. Um dia, uma semana, um mês, nada disso conta para as crianças. As crianças são os “Senhores do Tempo” e é com elas que nós devemos viver. Não sabem o que é o Amor, mas amam como ninguém. Não sabem o que é a morte e por isso vivem melhor.

O que eu acredito é que devemos viver com o ritmo da Lua, dos Rios, do Sol e particularmente das crianças, tudo o resto são histórias de adultos que são difíceis de entender.

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