13.8.08

Hoje o jcd redimiu-se aos meus olhos. Voltou a ser o jcd que conheci há 7 anos nos fóruns do Público e a quem jamais vira, salvo na questiúncula dos snipers há uns dias, neutralidade forçada. Assim sim :)


"De boas intenções está a ciência cheia. Convido-os a ler, no 5 Dias, o estudo “científico” mais preconceituoso e enviesado que li nos últimos tempos. Melhor ainda do que o outro, que um dia destes dizia que comer margarina faz bem às criancinhas.

Bem intencionado, sem dúvida. Este é um estudo que tenta provar uma tese: os imigrantes, em proporção, não cometem mais crimes que os portugueses residentes. Uma tese de combate à xenofobia bem difícil de provar porque é falsa, aqui e em qualquer país de imigração pouco qualificada. É falsa, mas quem não concorda que o mundo seria melhor se a tese fosse verdadeira? E terá sido por isso que alguém pensou que se conseguisse convencer os outros de que a a tese falsa é verdadeira, construir-se-ia um mundo melhor.

Mão à obra. Com as conclusões alinhavadas desde o início, só é preciso dar a volta aos números para que se justifique o estudo. Nem poderia ser de outro modo. Quem paga é o Observatório da Imigração e o Alto-Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas, organizações com propósitos e missão que nunca iriam aceitar conclusões adversas.

Então, como dar a volta a este ponto de partida:

Um caso bicudo. Vamos partir de 80% de investigação sociológica - “qual seria o resultado desta comparação caso estrangeiros e portugueses se assemelhassem nos aspectos susceptíveis de influírem sobre a criminalidade?”, e outros 80% de manipulação estatística. Dá 160% mas neste caso 100% não chegava para dar a volta à coisa. A parte estatística tem que ser impenetrável mesmo para mortais incomuns. Veja-se como começa a análise - pega-se numa matriz de componente rodada, submete-se a uma análise factorial de componentes principais, obtém-se uma solução com um teste de Bartlett de esfericidade que garante não ser a matriz de identidade, o MSA dá 0,88 e no fim aplicamos a solução obtida à rotação Varimax.

Com isto, já se afastaram todos os que queiram discutir o método científico por falta de capacidade analítica das técnicas utilizadas. Mais umas quantas frases de fino recorte científico e chegamos à primeira conclusão: “Não há, pois, necessidade de lançar mão da tese xenófoba para dar conta do fenómeno”. Assim é que é. A ciência ao serviço das causas - o Professor Boaventura deve estar radiante. Vamos no bom caminho.

O estudo continua. São dezenas de páginas de densa estatística que pretendem contrariar o gráfico de partida. Isolam-se factores. Os estrangeiros são jovens. Não vivem com a família. Ganham menos. Têm piores empregos. Andam mais horas nos transportes públicos. São mais pobres. Têm menor grau de escolaridade. São maltratados pelos tribunais. (Nem todos, os que vêm da Europa Ocidental são diferentes, mas essa distinção é irrelevante para as conclusões)

Por fim, o epílogo. “Em condições equivalentes de masculinidade, juventude e condição perante o trabalho” não há diferenças. É mais ou menos o mesmo que dizer: Os portugueses que fazem parte do grupo dos que cometem crimes, têm tendência equivalente para cometer crimes aos imigrantes que cometem crimes. Q.E.D.

La Palisse e muitos outros fariam isto por menos dinheiro, mas com menos ciência. Mas assim é melhor. Já deu na TV, já apareceu nos jornais, já está nos blogues. Objectivo cumprido."

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