O Ministério da Educação está preocupado com a colocação dos professores e com as condições das escolas, com as reivindicações dos sindicatos e com as críticas da oposição, com as exigências da burocracia e com as notas dos alunos – está tão preocupado com todas estas coisas meritórias que parece que alguém se esqueceu de um pequeno, inocente e irrelevante detalhe: o que é que se ensina, exactamente, nas salas de aula?
A pergunta é simples e a resposta devia ser simples – mas é um pouco mais complicada do que parece. Nas aulas de História, por exemplo, devia ensinar-se História. Mas, como a SÁBADO percebeu esta semana (num artigo que pode ler a partir da página 56), o que se ensina é uma visão perturbadora, ideológica e falsa, absolutamente falsa, da História.
No manual Caminhos da História, para o 12.º ano, editado pela ASA, escreve-se: “Qualquer que seja o modo como se encare a filosofia comunista, a verdade é que devem ser-lhe creditadas realizações positivas na economia: uma acentuada melhoria dos métodos agrícolas e do rendimento do solo, expansão considerável da industrialização; introdução da planificação que tem, pelo menos, a vantagem de evitar a superprodução”. Nem uma palavra sobre a fome nos campos soviéticos, sobre a escassez de produtos nas lojas e supermercados ou sobre a falta de capacidade de inovação económica dos países comunistas.
No mesmo livro, o Exército Zapatista mexicano é considerado um "movimento social" que defende o ambiente, a democracia e a justiça, esquecendo que se trata de um movimento de guerrilha num país democrático. Noutro manual, Cadernos de História, para o 9.º ano, da Texto Editores, o maoísmo é visto como "uma longa luta revolucionária apoiada, sobretudo, pelos camponeses", deixando para mais tarde a referência aos milhões de mortos provocados pelo regime de Mao. E há muito mais: a globalização vista como um incentivo a que o mundo se transforme "num vasto casino", a crise dos sindicatos como uma consequência do "egoísmo" de alguns trabalhadores, e etc., etc., etc.
O Ministério da Educação não tem que escolher todos os livros que cada aluno do País vai ler. E é bom que as escolas possam decidir que manuais pretendem adoptar. Mas, arranje-se a desculpa que se arranjar, livros escolares que falsificam a História não podem ser aprovados pelo Estado. Ou será que o Ministério também permitiria que as escolas escolhessem um manual que ensinasse que Hitler pretendia apenas um mundo mais harmonioso, que Pinochet afastou de forma pacífica alguns opositores e que Salazar era um homem bom que desconhecia as torturas da PIDE?
Mao, sem ou com poucos mortos
COM. “A ‘revolução cultural’ saldou-se em dois milhões de mortos, cem milhões de perseguidos e vinte milhões de jovens enviados, após o fim do movimento, para campos de reeducação.”
- O Tempo da História, 12° ano, Volume II Porto Editora
SEM. “O maoismo estabelecia a criação de comunas populares rurais, constituídas por milhares de famílias que viviam numa lógica de auto-suficiência. Contudo, estas experiências ficariam muito aquém do desejado e provocaram a oposição de muitos membros do Partido Comunista Chinês. Por isso, em 1966, o líder chinês desenvolveu um programa de Revolução Cultural, que tinha como objectivo o afastamento dos opositores ao regime, objectivo apoiado por muitos jovens chineses que veneravam a figura de Mao.”
- Cadernos de História 9, Areal.
“A proclamação da República Popular da China, por Mao Tse-Tung, após uma longa luta revolucionária apoiada, sobretudo, pelos camponeses, afastou definitivamente as forças nacionalistas e deu um novo vigor à economia do país, cuja reconstrução foi, em parte, suportada pelos soviéticos. [Ilustrado por uma imagem de Mao entre camponeses] O fracasso desta experiência [Grande Salto em Frente] levou Mao a iniciar, em 1966, a Revolução Cultural que, com a ajuda dos Guardas Vermelhos, rapidamente alastrou a todo o país. O objectivo era eliminar todos os opositores do regime e educar a população segundo os princípios maoistas”
- Novo História 9, Texto Editores
COM. “A ‘revolução cultural’ saldou-se em dois milhões de mortos, cem milhões de perseguidos e vinte milhões de jovens enviados, após o fim do movimento, para campos de reeducação.”
- O Tempo da História, 12° ano, Volume II Porto Editora
SEM. “O maoismo estabelecia a criação de comunas populares rurais, constituídas por milhares de famílias que viviam numa lógica de auto-suficiência. Contudo, estas experiências ficariam muito aquém do desejado e provocaram a oposição de muitos membros do Partido Comunista Chinês. Por isso, em 1966, o líder chinês desenvolveu um programa de Revolução Cultural, que tinha como objectivo o afastamento dos opositores ao regime, objectivo apoiado por muitos jovens chineses que veneravam a figura de Mao.”
- Cadernos de História 9, Areal.
“A proclamação da República Popular da China, por Mao Tse-Tung, após uma longa luta revolucionária apoiada, sobretudo, pelos camponeses, afastou definitivamente as forças nacionalistas e deu um novo vigor à economia do país, cuja reconstrução foi, em parte, suportada pelos soviéticos. [Ilustrado por uma imagem de Mao entre camponeses] O fracasso desta experiência [Grande Salto em Frente] levou Mao a iniciar, em 1966, a Revolução Cultural que, com a ajuda dos Guardas Vermelhos, rapidamente alastrou a todo o país. O objectivo era eliminar todos os opositores do regime e educar a população segundo os princípios maoistas”
- Novo História 9, Texto Editores
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