Short
Publicado por jcd em 25 Setembro, 2008
O primeiro-ministro ficou muito indignado quando soube que existia um mecanismo chamado ’short-selling’, isto é, a possibilidade de alguém vender na bolsa aquilo que ainda não é seu. Mas se o primeiro-ministro se quer indignar com práticas correntes, não é preciso ir à bolsa. Pode indignar-se com o mercado imobiliário, por exemplo. Vejam bem que é possível comprar uma casa que ainda não foi construída. Só que não lhe chamamos short-selling. Chamamos-lhe contrato-promessa. Tanto no mercado de capitais como no mercado imobiliário, esperamos que os vendedores honrem o compromisso e tanto num mercado como noutro, se os vendedores forem à falência, os compradores terão que correr atrás do prejuízo. Outro exemplo de short-selling é a FNAC que tem por hábitos vender jogos que ainda não estão no mercado. Aqui está um exemplo.
Claro que o senhor primeiro-ministro deveria saber que corre muito mais riscos quando assina um contrato-promessa de compra e venda de uma casa que ainda está apenas no papel do que quando compra ou vende títulos a descoberto nos mercados de capitais. Mas isso são coisas muito complicadas de explicar e compreendê-las até pode tirar votos. Imagine-se o que seria dizer em público que os produtos derivados fazem falta. Que escândalo, o PM a defender a ‘economia de casino’.
Também ainda não percebi se o primeiro-ministro se indigna com os mercados de futuros. Provavelmente, se lhe explicarem para que servem tão bem como lhe explicaram o short-selling, dá dois gritos e exige medidas.
Mas o principal actor nesta história de exigir o que ainda não existe é o governo. Por exemplo, o Pagamento Especial por Conta. As empresas estão obrigadas a pagar impostos por conta de lucros que ainda não obtiveram e até podem nunca vir a obter. Sócrates devia indignar-se com isto. Devia mesmo proibir tal prática. No IVA também. O IVA é pago pela factura, muitas vezes antes de se saber se o cliente paga. Quando o cliente é o estado, o fornecedor, primeiro vende o produto, depois entrega ao estado o IVA que ainda não recebeu. Semanas, meses ou anos depois, o estado paga-lhe o produto e devolve-lhe o IVA. Podemos dizer que durante este tempo, o fornecedor ficou short no IVA e o estado ficou long no abarbatanço do dinheiro do fornecdor. Sócrates devia estar piurso com isto. Alguém que lhe explique.
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