17.4.07

Na eventualidade de logo à tarde a UnI, pela boca de quem falar, afirmar que o sentido da grande cabala é o de denegrir a imagem dos angelicais políticos, aqui ficam algumas considerações tecidas pelo Gabriel e pela Helena Matos no Blasfémias:

"Erros de secretaria:

1. Em 28 Agosto de 96, Sócrates pediu e obteve um certificado de habilitações na UnI. A data de conclusão atestava: 08/08/9. Faltava um número: um erro da secretaria.


2. No ano 2000, a Câmara da Covilhã pediu-lhe tal certificado, para efeitos de reclassificação como funcionário da autarquia. Repararam que a data estava incompleta, pelo que se pediu uma segunda via. Foi enviado «ainda em Setembro», um segundo certificado, agora com a data de 08/08/96, mas em papel timbrado do ano 2000. Outro erro da secretaria.


3. Ainda no primeiro certificado foram indicadas como equivalências 24 cadeiras e não 26, pelo que Sócrates teria feito 7 cadeiras para terminar o curso e não cinco. Mas, diz o governo, o primeiro certificado estava certo na data, mas errado quanto às equivalências. Uma vez mais, por erro de secretaria.
4. O primeiro-ministro tem em seu poder, e até mostrou na televisão, um terceiro certificado passado em 2003, com 26 equivalências, e cinco cadeiras feitas na UnI, mas... por erro de secretaria, com a data de conclusão errada: 08/09/96.


5. Algumas das notas entre os 3 certificados não batem certo. Obviamente, um erro de secretaria.


6. Sócrates terá requerido um plano de equivalências , num total de 25 cadeiras. Teve equivalência a 26. Erro de secretaria?


7. No documento de equivalências, o Conselho Científico da Universidade não se pronuncia, o que se suporia obrigatório para atribuição dessas mesmas equivalências. Erro de secretaria?

(Nota: sobre as equivalências, ver posta «esclarecedora»)


8. Sócrates requereu equivalências ao reitor (sem indicação de nome) e obteve resposta, por parte de Luís Arouca em Setembro de 1995. Só que este não era na altura o reitor. Erro de Secretaria?


9. A notícia de que em 93 a ficha biográfica no Parlamento de Sócrates indicava o mesmo como Engenheiro Civil foi considerada pelo governo como um erro de secretaria.

Bem, não, afinal não foi bem do parlamento..... Foi Sócrates, ele próprio, que «clarificou», em data incerta, um seu lapso, embora reafirme que nunca se intitulou como «licenciado» antes de o ser. O que também se verificou não ser bem como ele diz.


10. Na listagem de licenciados do relatório do ministério, Mariano Gago afirma que por erro de secretaria da UnI, não surge nenhum licenciado em 95 (ano em que deveriam ser indicados os licenciados do ano lectivo de 95/96, o caso de Sócrates). Já agora, nem em 96."


"Absolutamente normal*

I O responsável máximo pelo estudo afinal não era o responsável máximo. Quatro dos dossiers desse importantíssimo estudo são assinados pela mesma pessoa. As datas constantes no estudo também não podem ser aquelas que constam do seu cabeçalho já que nessa data os indicativos telefónicos e os códigos postais eram outros. A isto junta-se que desse estudo existem duas versões diferentes nos organismos oficiais onde ele foi entregue, etc... etc... Não, não me estou a referir ao processo de certificação académica de José Sócrates. Estou apenas a transferir para a actividade governamental o conceito de normalidade que passámos a aceitar no caso das habilitações do primeiro-ministro. Suponhamos que o estudo que referi tratava da localização do novo aeroporto. Do traçado do TGV. Do destino da GALP. Das opções da CGD. Do futuro da Segurança Social. Da reestruturação dos serviços de informações e segurança – seriam esses estudos considerados normais? Admitir-se-iam tantos erros burocráticos e administrativos? Espero sinceramente que não. Mas corremos de facto o risco de que tal aconteça.
Porque uma coisa é os portugueses darem a Sócrates o benefício da dúvida ou o ‘benefício apesar da certeza’ numa matéria pessoal como é o da sua formação académica. (O que aliás coloca uma pergunta cuja resposta está naturalmente adiada: vai o PS passar um cheque em branco e não datado neste caso a José Sócrates?). Outra coisa, essa muito mais grave e questionável, é este ‘faz de conta que é absolutamente normal’ instalar-se como estilo governamental e ser aplicado em assuntos como os que referi.

Mas não só. Nós mesmos podemos fazer de conta que achamos que é absolutamente normal que a documentação proveniente da UnI acumule erros sobre erros, mas não podemos fazer de conta quando os erros se estendem ao arquivo da Assembleia da República. Por razões várias, na nossa vida, todos nós esticamos e encolhemos os limites daquilo que consideramos absolutamente normal. Mas, como bem sabemos, devemos respeitar esses limites ou acabamos a não ser capazes de, diante dum espelho, perante o nosso próprio olhar, repetir a expressão “absolutamente normal”.

II É óbvio que os diplomas universitários de José Sócrates me inspiram dúvidas. Contudo não estão em causa os seus dotes e capacidades de liderança. E, seja qual for o resultado de todo este caso, não se pode esquecer que José Sócrates é líder do PS porque ganhou esse lugar e primeiro-ministro porque a maior parte dos portugueses lhe deu o seu voto de confiança. Outra coisa bem diversa são umas figuras como Armando Vara que não se percebe a que título, pessoal ou académico, foi nomeado administrador da CGD e que sobre o caso da Universidade Independente produziu na revista Sábado declarações muito significativas: «Conheci o António Morais numa reunião do PS no hotel Altis. Ele apresentou-se e disse-me o que fazia e que era de Carrazeda de Ansiães, a minha terra. Passado algum tempo, lembrei-me dele para uma função onde precisava de alguém.» A juntar a este critério de selecção baseado no nascimento em Carrazeda de de Ansiães e na filiação no PS juntou ainda Armando Vara um conselho ao jornalista – «Vá ver de onde vêm estas coisas [notícias sobre a UNI] e as ligações que existem ao grupo parlamentar do PSD». E para reforçar a recomendação Vara recorreu a um provérbio que diz ser também da sua terra: «pimenta no rabinho dos outros é refresco». Nada tendo eu contra Carrazeda de Ansiães, e o que por lá se diz ou faz, não me parece que Governo algum possa escolher e manter como administrador do principal banco português uma criatura que em bom juízo nem parece estar preparado para estar ao balcão da CGD. Seja em Carrazeda de Ansiães ou em qualquer outro lugar.

*PÚBLICO, 16 de Abril"

Sem comentários: