7.3.05

Virá certamente um dia
em que o tempo está todo
atrás de nós e o sonho
ainda intacto, coxeia
Nada mudará, como nunca
nada mudou, mas apenas
esta sensação mais premente
que a luz decai no nosso horizonte

Quem deixamos ou encontramos
que voltas podemos dar, já tontos
com os pés encolhidos no limite
da linha de fim da estrada
Deixámos passar tudo, e se não
fosse assim, seria exactamente
da mesma forma, e teríamos
guardado os mesmos tesouros

Pousamos as armas aos pés da Vida
nunca as usámos, nem poderíamos
o acaso e um vento nos empurrou
de dia para dia, com a esperança
de coisas que nem queríamos

Foi tudo quase nosso: o grito, o riso,
os pés de criança nas águas límpidas,
o pulo na onda enorme, a areia quente
e grossa, por entre os dedos
Foi tudo quase nosso: o teu olhar
perdido, os poemas gritados ao luar
os cacos, os gemidos, o sangue
a fúria da certeza que ia deixar de ser
Fui tudo quase nosso, num momento
no seguinte passou ao olhar do lado
à ânsia do próximo, ao ventre daquela
mulher sentada onde não há tempo
nem mais nada

- A.C.

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