29.10.03

Adormeci no sofá a ouvir Stina Nordenstam com o subwoofer e a televisão ligados (não consigo pensar em nada de mais inútil às 04:00 - portanto duas horas antes de acordar) e depois de ter acabado um balão de Remy Martin. De manhã matei um peixe-de-prata com raid azul e fui ver o IC19 antes de decidir não fazer a barba. É que hoje não tenho palavras próprias, o que é um estado recorrente que se manifesta sempre que os dias e as paredes se lembram de vir cobrar o repouso em atraso. Mas temos todos muito tempo de dormir durante a morte.


Hoje é um dia reservado ao veneno
e às pequeninas coisas
teias de aranha filigranas de cólera
restos de pulmão onde corre o marfim
é um dia perfeitamente para cães
alguém deu à manivela para nascer o sol
circular o mau hálito esta cinza nos olhos
alguém que não percebia nada de comércio
lançou no mercado esta ferrugem
hoje não é a mesma coisa
que um búzio para ouvir o coração
não é um dia no seu eixo
não é para pessoas
é um dia ao nível do verniz e dos punhais
e esta noite
uma cratera para boémios
não é uma pátria
não é esta noite que é uma pátria
é um dia a mais ou a menos na alma
como chumbo derretido na garganta
um peixe nos ouvidos
uma zona de lava
hoje é um dia de túneis e alçapões de luxo
com sirenes ao crepúsculo
a trezentos anos do amor a trezentos da morte
a outro dia como este do asfalto e do sangue
hoje não é um dia para fazer a barba
não é um dia para homens
não é para palavras

(António José Forte)


De certeza que a rede pedófila tem mais ramos que um pinheiro de Natal made in Ilhas Faroë, e que nem o Chris Carter ou o Alan Moore estariam à altura de tal enredo, mas a esperança que tenho, pessoalmente, de acordar um dia e dar com as manchetes ocupadas por um empalamento em massa nas escadas do parlamento, é a mesma que se calhar reside no acto de votar em branco.

O outro sempre fez um parque lá nas traseiras, que me dá jeito porque já não gasto vinte contos por mês a mandar arranjar os espelhos.

Tenho saudades de te ver e não compreendo a malta que vive de rolha metida no cu, de camisola enfiada pelos poros dentro sem querer perceber que não, não é verdade que das oito às dezoito nos devemos anular porque nos pagam para isso e existe um mundo melhor para os nossos filhos se perpetuarmos esta sociedade.

Tenho escrito umas coisas, ando a trabalhar numa short story para servir de base a um jogo, vou comprar uma guitarra nova para voltar a dar uns toques, e daqui por nove dias são as minhas duas semanas de filhote. Acessoriamente o forum anda activo, estou a reler o Crime e Castigo, vou ver a Mari Boine no dia 30/11, estou a tentar organizar um meeting global do #tavern, amanhã dou um jantar para 8, tenho corrido dia sim dia não, a Xana deu-me alheiras, encontrei um site porreiro de arte digital e continuo a achar Klimt, Dali e Millet os maiores.

Já não jogo um King há milénios, mas em compensação tenho uma garrafa nova de Lagavulin. Yay.

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