Vinha no caminho a pensar em duas coisas (além da condução, do jantar, de preparar mentalmente as aulas que vou dar, e da forma mais expedita de perder os oito kg que faltam): no acto de blogar e na cultura da impunidade.
O acto de blogar pode ser
a) um revivalismo pueril
b) o exercício do apego à vida eterna, como plantar uma árvore, procriar ou executar uma obra de arte
c) uma forma de matar o tempo contornando a clausura instituída pelo corporativismo (ou pela simples necessidade de estar sentado numa cadeira oito horas por dia para receber o salário mínimo)
d) um mix completamente freestyle de todas as anteriores.
Quanto à cultura da impunidade lembrei-me de uma noite, há muitos anos, em que estava sentado à porta da casa onde morei durante 23 anos, e eram quatro da madrugada. Estávamos lá os cinco, a conversar depois de um copo. Duzentos metros mais abaixo, estavam três tipos a chutar qualquer coisa na veia. A GNR passou e mandou-nos ir para casa por causa do ruído de vizinhança, e ignorou os outros tipos. Seis meses antes, um sujeito foi espancado por um bando de feirantes (daqueles dos carrocéis e da sardinha a balde) e uma vizinha ligou para o posto da GNR de Loures, para receber, meia hora mais tarde, uma chamada em retorno, na qual uma voz tosca e hesitante perguntava "olhe, era para saber se já acabou ou se ainda há confusão". De manhã havia sangue pela rua toda. Claro que isto foi há treze anos e hoje os niveis de civilidade, literacia e segurança mudaram muito.
E com isto fiz os 9km até aqui.
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