30.10.03

Na encosta suave, virada a nascente, a casa erguia-se rasteira. A rua, estreita, ladeava os muros caiados, rasteiros, enfeitada com portas pequenas de madeira antiga. Folhas e ramos com folhas exploravam, espreitando, a rua e as portas por cima do muro.
Era a terra molhada de orvalho e a alvorada seca, era a família albergada entre quartos a dormir os pratos da véspera.
Uma janela branca, portadas assim, e a luz indirecta aos pés do colchão. O quarto tranquilo da noite tranquila, o ar tépido e limpo. O cheiro do café quente mais forte que as paredes da casa.
A porta branca, descendo a escada de madeira antiga, não fria, forte, pelo corredor comprido passando por portas e uma lâmpada vigil.
Os pés, em meias, os olhos dispostos a saber o que um dia traz consigo, eram as mãos que coçavam o corpo estremunhado ao passar por água fresca o rosto contente. As gotas brilhavam como estrelas cadentes no perlimpimpim matinal, como fadas num céu branco e radioso.
O pão, quente e estaladiço, os copos e tudo na mesa comprida, o pão.
Hoje eu sei que tu estás aí, e sei tão bem como tu sabes que todas as noites são tranquilas, mesmo as que, por princípio, não o deveriam ser. É tão suave falar em nós, tão suave como a encosta por onde aquela alvorada rolou em gotas de orvalho. Ainda tenho as mãos firmes, hoje sou mais forte que as paredes da casa, embora talvez por princípio não devesse sê-lo.
É hoje e nestes dias que a vida me ensina que nunca deixamos realmente de ser crianças.

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