"Os portugueses estão a tornar-se claramente mal intencionados. É uma tendência genérica do mundo ocidental que, como se sabe, é pródigo em alimentar aqueles que o querem destruir por dentro e, não raras vezes, através do exterior. Há umas décadas atrás os portugueses podiam ser descritos por uma série de características negativas. Um povo analfabeto, de alcoólicos, com crenças que hoje nos parecem inacreditáveis, onde a utilização da violência era a primeira medida para impor respeitinho. Por incrível que pareça, os tempos que correm são bem piores.
Continuamos a ser um povo de analfabetos funcionais, onde licenciados não conseguem interpretar textos simples mas acham que adquiriram automaticamente o direito a um emprego bem pago. Os analfabetos de outro tempo, que ainda tinham coragem de dizer “não sei”, foram substituídos por um tropel de escolarizados que acham que já tudo sabem e se esforçam por nada mais saber. Os alcoólicos de antes, ignorantes e criados com “sopas de cavalo cansado”, foram substituídos por universitários que acham que o paroxismo da vida académica encontra-se com um copo na mão.
No passado, o povo tinha no seu quotidiano a utilização de mezinhas e pedidos ao além, mas o de hoje não passou a ser mais racional. Jornais e revistas não dispensam o horóscopo. As mezinhas de antigamente foram substituídas por doutos conselhos médicos que, se todos somados e confrontados ir-se-iam anular em grande parte, prescrevendo um jejum quase completo ou um enfartamento mortal por forma a atingir a saúde perfeita em todos os domínios, providenciada pelas propriedades miraculosas dos mais diversos alimentos, de preferência os de origem exótica. O racismo contra africanos foi substituído pelo antiamericanismo. As crenças no além foram substituídas pela crença no Estado nosso Senhor, e pela fé nas alterações climáticas, com consequente veneração do arcebispo Al Gore.
Os pais que antes diziam aos educadores para baterem nos filhos sempre que tal fosse necessário, no fundo da sua ignorância estava o desejo de darem à sua prol um futuro melhor que aquele que tinham tido, estando conscientes dos maus caminhos que só podiam ser evitados com disciplina. Nos pais de hoje não se percebe qualquer objectivo, nem para si nem para os seus filhos. Prisioneiros do niilismo, esqueceram as palavras de Platão, de que é pior cometer o mal do que o sofrer. Não agem, reagem quando acossados. A realidade para eles é uma afronta, e apontar as falhas patentes dos seus filhos é sentido como um insulto que se tem de retribuir da forma mais dura que lhes for possível.
Muito mais podia ser avançado a este respeito, a honra que foi substituída pela mentira rotineira, os velhos que se passaram a colocar nos lares para morrerem, a explosão das maleitas do espírito, a falência da Justiça e a fraude da Segurança Social. Urge deixar de lado as palavras mansas. É preciso assumir que não há forma de tratar ou simplesmente descrever certas pessoas a não ser utilizando palavrões. As nossas energias devem ser entregues àqueles que se esforçam por ser respeitados.
O respeitinho está aí de novo em força, mas se antes era explícito, previsível, hoje aparece de inúmeras formas, mascarado como a necessidade de aplicar os valores da modernidade, que não só urge cumprir como penalizar quem lhes está à margem. A violência não diminuiu, pelo contrário, mas ganhou novas matizes. A insegurança aumenta e só não é mais patente porque outras preocupações a fazem diluir na memória. A violência ganhou sobretudo uma sofisticação psicológica, que começa a ser visível nos primeiros anos de escola. Há 15 anos atrás as crianças ainda brincavam horas a fio nas ruas e se de manhã podiam brigar, na parte da tarde já tudo estaria esquecido. Às crianças de hoje foi-lhes vedada, por diversos motivos, a socialização espontânea. As valências prometidas sobre o ensino pré-escolar e a respeito dos novos métodos de ensino não foram cumpridas. Se nada aprendem os nossos jovens, pelo menos dominam os métodos de exercer a pior violência mental sobre os seus colegas e professores, por vezes durante meses de forma recorrente. Os mais afoitos já perceberam até que ponto podem partir para a violência física, sabendo que vivem sob um paradigma que nunca os responsabilizará.
Os pais que antes diziam aos educadores para baterem nos filhos sempre que tal fosse necessário, no fundo da sua ignorância estava o desejo de darem à sua prol um futuro melhor que aquele que tinham tido, estando conscientes dos maus caminhos que só podiam ser evitados com disciplina. Nos pais de hoje não se percebe qualquer objectivo, nem para si nem para os seus filhos. Prisioneiros do niilismo, esqueceram as palavras de Platão, de que é pior cometer o mal do que o sofrer. Não agem, reagem quando acossados. A realidade para eles é uma afronta, e apontar as falhas patentes dos seus filhos é sentido como um insulto que se tem de retribuir da forma mais dura que lhes for possível.
Muito mais podia ser avançado a este respeito, a honra que foi substituída pela mentira rotineira, os velhos que se passaram a colocar nos lares para morrerem, a explosão das maleitas do espírito, a falência da Justiça e a fraude da Segurança Social. Urge deixar de lado as palavras mansas. É preciso assumir que não há forma de tratar ou simplesmente descrever certas pessoas a não ser utilizando palavrões. As nossas energias devem ser entregues àqueles que se esforçam por ser respeitados.
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