16.1.09

Comentário de Natália Bravo ao post “Novas Oportunidades” no Insurgente:

As “Novas Oportunidades” não são novas, não são oportunidades e também não são programa de coisa nenhuma. São um medonho embuste, uma mentira terrível de difícil definição e explicação. Usando uma terminologia mais ligeira, podemos afirmar, demonstrar e confirmar que se trata de uma palhaçada, de uma bandalheira do pior, algo em que ninguém acredita: professores (promovidos a “formadores”), estudantes (promovidos a “formandos”)e, naturalmente, empregadores que, mal por mal, preferem mesmo aquele que frequentou aulas em que aprendeu um bocadinho de português, outro de matemática, que dá uns toques no inglês e no computador e tem uma ideia geral de que Portugal fica na Europa. Nas novas oportunidades o conhecimento foi promovido a “competências” e o ensino à “desocultação” das mesmas (competências)… Acrescentemos a avaliação, de que tanto se fala no que respeita aos professores, essa promovida a “validação” dos trabalhos respeitantes aos “Domínios de Referência” pela atribuição de “créditos”. Continuando, temos ainda as áreas de “competências-chave” com os seus “núcleos geradores”, e tal.
Como resultado, tenho duas turmas de EFA(s) secundário, quer dizer “educação e formação de adultos” com “formandos” que irão receber o diploma do 12.º ano, sem saberem ler nem escrever e a quem não é possível ensinar. Foram lá parar adultos jovens e menos jovens já com o 9.º ano feito pelas “novas oportunidades”, ou que haviam frequentado (mal, naturalmente) o 3.º ciclo há muitos anos. Pelo meio, uns poucos que, realmente, ambicionavam aprender qualquer coisa, desapareceram espavoridos ao fim da 1.ª semana das “acções de formação” . Os outros, a bem dizer também, a pouco e pouco, e inteligentemente começaram a evitar com cuidado a gélida sala de aula, sem aquecimento, entre as 19:00 e as 24:00 e a ficar em casa, seguros de que a escola vai arranjar forma de lhes atribuir os “créditos” necessários para o almejado diploma. O que , estranhamente, vai acabar por acontecer visto aos professores restar o cumprimento das obrigações que rodeiam esta coisa abstrusa, fazendo diligentemente a contabilidade das horas gastas a não ensinar os não alunos, o registo cuidado dos créditos atribuídos a trabalhos de que desconhecem a origem (podem ser feitos pelo vizinho do lado do formando que não há qualquer forma de verificação…)tudo no completo respeito pela frase mágica martelada nas “acções de formação” e reproduzida cuidadosamente aos que entraram na última carruagem: “todos os formandos têm que ter sucesso porque o contrário só provará a incompetência do formador, isto é do professor.
E é assim a vida, meus amigos e é necessário ter um estômago muito, muito forte para aguentar isto. Como não é o meu caso… pedi a reforma! Em conclusão vou passar à reforma, compulsivamente, pelas mãos das “novas oportunidades” e espero, depois de lhes tirar as aspas, que seja mesmo a minha oportunidade de voltar a ensinar quem quer aprender.

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