17.1.05

Luz branca por toda a parte. Sons agudos, estridentes, ruído branco. E vozes. Voz de uma gaja que devia ser boa. Voz de outra gaja a tremer de medo. Metal em metal. Som do éter a toldar as amarras. Tubos? Welcome, my son, welcome, to the machine... Não pensamos todos em inglês, a maior parte das vezes? Não sonhamos em inglês?Na---
CLEAR!!!!!
choque; onde? ah; gajo.
Pancada seca, peito arqueado, subir, gravidade zero, doente com gravidade, gravidez quando?!, pânico não, não, calma, Penguin Cafe. Penguin Cafe.
Voz branca Dêem-me 400 vou perdê-lo
CaLfEaAsRt!e!m!-!s!e
asdasd
asdasd Scroll Lock
Os teus olhos tão matter of fact. A tua certeza mais limpa que o meu receio. Amo-te e à vida. Não deixes o Mundo quebrar-te. Não quero ir Afastem-se. Na---



Preto. Sem tons de cinzento. Sozinho enroscado de regresso ao ventre. Deserto. À velocidade da luz por cima das terras quê, acordadas, the waking lands, à velocidade dum raio de sol a aquecer meias vidas. Campos de trigo. Crianças a correr. Flatliners? Toda a vida de um homem desfila ante si no momento da ida. Raio de sol. Era isto... é tão simples, simples, e fizeram-nos sempre acreditar que não, porquê, e não posso voltar, eu sei, esperar vai ser duro, e no entanto as tarefas, e a descoberta, e sem vos ver e pensar que não sabem e desesperam. Um sinal, qualquer coisa, furar o esquema... adeus, gostei, tudo faz sentido... alegria. Branco.



Soprava uma brisa a cheirar a bom tempo quando os torrões começaram a cair. A brisa trazia aquela sensação que se tem quando se é puto, de que as férias já não tardam, de que em breve poderemos passar os longos e solarengos dias como nos apetecer, capitães da vida. O sol e as árvores. Aqui há árvores, ficas bem. Ficas bem, eu venho ver-te. E eles também, e vais ver que havemos de voltar a ver-nos, ou se calhar já não sei. Acho que ela nunca mais volta a casar. Nem nada. O que é que querem de nós, quem é que deu valium a Deus antes dele acabar a obra? Não consigo chorar nestas merdas, nunca chorei, será por ter certeza de te voltar a ver ou por não valer a pena? A pá do coveiro tem a pega com ferrugem, ainda não vacinei o meu filho contra o tétano, há tanta coisa que não te disse. Não achas que às vezes sonhamos em inglês? Desculpa mas vêm-me canções à idéia. Não quero chorar.
Como fantasmas descemos a colina, a brisa estival a enfunar a gabardina do Nuno, é incrível, mas lembro-me do Matrix e do Aconteceu no Oeste. Devia aperceber-me dos meus olhos inchados, do estômago retalhado pela garrafa que bebi ontem, do peso que sinto nas pernas com cada passo que dou. Estaremos mortos e tu vivo? Se nos desses um sinal ia ter contigo. Mas não posso, tenho o meu dever. Ali havia uma oficina de estofadores. E o meu avô vinha aqui comigo apanhar caracóis. O Cola ainda se lembra deste sítio, já não consegue chorar mais e tem a cara a arder mas os olhos brilham como se tivesse outra vez dez anos. Fantasmas, errantes, piratas da vida. Lembro-me do filme em que o Tim Robbins encontra o puto no sopé da escada, em flashbackforward, helicópteros, vietname, a escada do Jacob. Tem piada, o meu sogro é o Jacob e vai ver-te primeiro que eu.

Abraço a brisa. Hoje foi a enterrar um bocado de mim.

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