8.2.07

Na Grécia da antiguidade, somente os proprietários, pela relativa abundância que lhes conferia o rendimento obtido pela exploração dos seus - ainda que por vezes exíguos - terrenos, podiam andar com arma e de armadura, símbolos do pleno direito à cidadania e voto na matéria, porque igualmente ónus do chamado à batalha. Fazia algum sentido? Não sei, mas seguramente fará mais do que aquilo que actualmente se passa neste projecto preparativo de plutocracia made in Alcochete.
A esquerda hermética, esse baluarte de tolerância e reduto fortificado dos defensores da liberdade - desde que esta imbua de intocabilidade qualquer indivíduo, organização ou crença minoritária ou obscurantista, pelo simples facto de o serem - vem tomando de assalto, paulatinamente, as mentalidades, os hábitos, as definições, os instintos por enquanto ainda reactivos da populaça.
Desde que começámos a viver em redoma comunal, deixou de ser seguro para um homem livre esboçar comentários que visem reduzir às suas expressões patéticas as formas de ser dos fundamentalistas, sejam eles muçulmanos, pretos, amarelos, roxos, ou de qualquer outra minoria (que rapidamente passará a ser maioria, mas não, desenganem-se que não assistiremos a inversão alguma de atitudes por parte dos campeões da igualdade) e mais ainda, preocupa-me assistir à degradação anestesiada da individualidade dos miúdos, na escola, bombardeados com "assunções de facto" às quais não sabem se hão-de fazer o acto de contrição para chegarem ao 12º em tempo útil, ou de enveredar pelo repúdio granjeando assim mais uns pontos de admiração por parte do colectivo, mas a troco de um futuro ainda menos risonho na via académico-profissional.
É gritante. Tudo acontece e ninguém faz nada, exactamente como antes daquele dia em que uns gajos quaisquer pegaram nuns tanques e mandaram umas bombocas para o ar. Assusta quem ainda une a memória à intuição racional.
Já sabíamos que um branco que apalpa uma preta é racista, ao passo que um preto que apalpa uma branca é um pobre recalcado vítima da descolonização apressada. E que um árabe que bombardeia uma escola é um mártir da causa tolerante, enquanto um italiano que fica sem pernas no Iraque é um cão invasor. O que eu ainda não sabia mas descobri hoje é que um homem que ganhe a razão num debate com uma mulher é decerto um porco chauvinista, mas que uma mulher decidindo sobre uma vida que não lhe pertence, e só por ser mulher, tem de ser tida em conta de ícone libertário.
Está tudo fodido.

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