"Ouço as explicações: erros de secretaria, falhas burocráticas, formas normais e comuns de tratamento pessoal e de conclusão de cartas, esquecimentos…
Nada que não possa, de facto, acontecer.
O problema não está, contudo, nestes erros e lapsos poderem ocorrer. Está em terem ocorrido todos simultaneamente.
Levado por esta hipótese, dedico-me a um pequeno exercício de probabilidades. Pego em meia dúzia de factos do caso Sócrates, sem qualquer preocupação de exaustão, e questiono-me:
1- Qual a probabilidade de José Sócrates se intitular engenheiro e deixar que o tratassem por engenheiro, quando consabidamente o não era?
Sejamos honestos. É muito elevada. Quase todos os engenheiros técnicos que conheço o fazem. Ponhamos, por isso, 99% (0,99).
2- Qual a probabilidade de um aluno de uma universidade, inscrito em cinco cadeiras, ter o mesmo professor em quatro?
Não conheço nenhum caso, não conheço ninguém que conheça, mas admito, generosamente, 5% (0,05).
3- Qual a probabilidade de um aluno ter como professor o reitor da universidade?
Tanto quanto sei, os reitores não costumam dar aulas. Admito, no entanto, que na “Independente”, o reitor tenha dado umas aulas. Não muitas, naturalmente, mas concedamos, por absurdo, que as deu a quase toda a gente e estabeleçamos 80% (0,8).
4- Qual a probabilidade de, por esquecimento, o registo de uma disciplina (o inglês técnico, no caso de Sócrates), ter ficado omissa no plano de estudo que um aluno deve frequentar?
Esta é mesmo muito pequena, mas admitamos 10% (0,1).
5- Qual a probabilidade de, por lapso, um diploma indicar um domingo como data de conclusão de um curso?
Concedamos, a brincar aos exageros, que na “Independente” as datas de conclusão dos cursos são aleatoriamente atribuídas a qualquer dia da semana. Então a probabilidade de calhar o domingo é de 1/7, 14,3% (0,143), arredondando por excesso.
6- Qual a probabilidade de um dossier de transferência de um aluno ser concluído (como, se diz que foi o de Sócrates) muitos meses depois do termo do respectivo prazo legal?
João Redondo, da Associação do Ensino Superior Privado, responde que nenhuma. Faz sentido, porque é uma ilegalidade. Mas às vezes, sem culpa do aluno, as ilegalidades cometem-se. Num país como o nosso, podem acontecer com alguma frequência, mesmo sem estarmos diante de uma hipótese de corrupção. Com o aluno de perfeita e integral boa fé. Fixemos então a probabilidade de isto acontecer por puro desleixo em 1% (0,01).
7- Qual a probabilidade de um deputado corrigir a ficha dos seus dados pessoais na Assembleia da República?
Esta é fácil de verificar. Basta consultar os registos respectivos. Admitamos, até que essa análise seja feita, que isso acontece em cada legislatura a 16 deputados. Considerando, por defeito, um universo de 200 deputados, temos 8% (0,08).
8- Qual a probabilidade de alguém, dirigindo-se em tons formais a um desconhecido, terminar com a expressão “do seu”?
Bem, eu tenho uma profissão em que passo a vida a escrever e a receber faxes e cartas. Nunca escrevi nem ninguém me escreveu “do seu”. Mas noutros meios, mais influenciados pela cultura inglesa, admito que possa acontecer. Demos uma probabilidade de 20% (0,2).
Podíamos continuar, mas não vale a pena. Temos uma série de factos lamentáveis que, embora relativamente improváveis, aconteceram na realidade com José Sócrates. Façamos agora a pergunta fundamental: e qual é a probabilidade de estes factos terem ocorrido todos, como José Sócrates diz que desgraçadamente lhe aconteceram?
Sendo factos todos independentes uns dos outros, o cálculo de tal probabilidade obtém-se pela multiplicação da probabilidade de cada um.
Faço as contas e, se as faço bem, obtenho uma probabilidade de menos de 1 para 10.000.000.
José Sócrates é o mais azarado dos portugueses.
Creio que José Sócrates de saiu relativamente bem da entrevista de ontem e que, por ora, o risco de o seu governo cair é diminuto.
A sua credibilidade tende fortemente para zero.
Isso vai ter consequências políticas."
Nada que não possa, de facto, acontecer.
O problema não está, contudo, nestes erros e lapsos poderem ocorrer. Está em terem ocorrido todos simultaneamente.
Levado por esta hipótese, dedico-me a um pequeno exercício de probabilidades. Pego em meia dúzia de factos do caso Sócrates, sem qualquer preocupação de exaustão, e questiono-me:
1- Qual a probabilidade de José Sócrates se intitular engenheiro e deixar que o tratassem por engenheiro, quando consabidamente o não era?
Sejamos honestos. É muito elevada. Quase todos os engenheiros técnicos que conheço o fazem. Ponhamos, por isso, 99% (0,99).
2- Qual a probabilidade de um aluno de uma universidade, inscrito em cinco cadeiras, ter o mesmo professor em quatro?
Não conheço nenhum caso, não conheço ninguém que conheça, mas admito, generosamente, 5% (0,05).
3- Qual a probabilidade de um aluno ter como professor o reitor da universidade?
Tanto quanto sei, os reitores não costumam dar aulas. Admito, no entanto, que na “Independente”, o reitor tenha dado umas aulas. Não muitas, naturalmente, mas concedamos, por absurdo, que as deu a quase toda a gente e estabeleçamos 80% (0,8).
4- Qual a probabilidade de, por esquecimento, o registo de uma disciplina (o inglês técnico, no caso de Sócrates), ter ficado omissa no plano de estudo que um aluno deve frequentar?
Esta é mesmo muito pequena, mas admitamos 10% (0,1).
5- Qual a probabilidade de, por lapso, um diploma indicar um domingo como data de conclusão de um curso?
Concedamos, a brincar aos exageros, que na “Independente” as datas de conclusão dos cursos são aleatoriamente atribuídas a qualquer dia da semana. Então a probabilidade de calhar o domingo é de 1/7, 14,3% (0,143), arredondando por excesso.
6- Qual a probabilidade de um dossier de transferência de um aluno ser concluído (como, se diz que foi o de Sócrates) muitos meses depois do termo do respectivo prazo legal?
João Redondo, da Associação do Ensino Superior Privado, responde que nenhuma. Faz sentido, porque é uma ilegalidade. Mas às vezes, sem culpa do aluno, as ilegalidades cometem-se. Num país como o nosso, podem acontecer com alguma frequência, mesmo sem estarmos diante de uma hipótese de corrupção. Com o aluno de perfeita e integral boa fé. Fixemos então a probabilidade de isto acontecer por puro desleixo em 1% (0,01).
7- Qual a probabilidade de um deputado corrigir a ficha dos seus dados pessoais na Assembleia da República?
Esta é fácil de verificar. Basta consultar os registos respectivos. Admitamos, até que essa análise seja feita, que isso acontece em cada legislatura a 16 deputados. Considerando, por defeito, um universo de 200 deputados, temos 8% (0,08).
8- Qual a probabilidade de alguém, dirigindo-se em tons formais a um desconhecido, terminar com a expressão “do seu”?
Bem, eu tenho uma profissão em que passo a vida a escrever e a receber faxes e cartas. Nunca escrevi nem ninguém me escreveu “do seu”. Mas noutros meios, mais influenciados pela cultura inglesa, admito que possa acontecer. Demos uma probabilidade de 20% (0,2).
Podíamos continuar, mas não vale a pena. Temos uma série de factos lamentáveis que, embora relativamente improváveis, aconteceram na realidade com José Sócrates. Façamos agora a pergunta fundamental: e qual é a probabilidade de estes factos terem ocorrido todos, como José Sócrates diz que desgraçadamente lhe aconteceram?
Sendo factos todos independentes uns dos outros, o cálculo de tal probabilidade obtém-se pela multiplicação da probabilidade de cada um.
Faço as contas e, se as faço bem, obtenho uma probabilidade de menos de 1 para 10.000.000.
José Sócrates é o mais azarado dos portugueses.
Creio que José Sócrates de saiu relativamente bem da entrevista de ontem e que, por ora, o risco de o seu governo cair é diminuto.
A sua credibilidade tende fortemente para zero.
Isso vai ter consequências políticas."
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