27.4.07

Simplex e a Meretriz República

Cidadão A ligado à terra numa Eneida traduzida por fiscais da EMEL com acne e miopia.

7 da manhã o cidadão A levanta-se; como não tem outra hipótese, deixa os filhos a dormir e pede a familiares que os levem à escola. Esses familiares perdem tempo de cujo valor não são ressarcidos.

8 da manhã o cidadão A está à procura do centro de emprego da sua área de residência; a GNR, as pessoas na rua e os lojistas não sabem onde fica, nem existem quaisquer indicações em conformidade. É um puto de 12 anos, abordado a medo não venha a brigada controleira ao cheiro de pedófilos ("o senhor é criminoso, só que ainda não o sabe"), que fornece a preciosa informação. O cidadão A encontra a dita repartição e arruma o carro no único lugar disponível, a 900m. Não repara no parquímetro (caraças! já contei o fim da estória) e vai descansado comparecer à "sessão técnica" (sic na convocatória) que se destina a reinserir o cidadão A no mundo dos vivos.

Às 11:45 termina a sessão. O cidadão A fica a saber que a partir de agora é um perigoso cadastrado, um facínora ao trato: apresentações periódicas, porte de comprovativos de envio de cartas/mails a solicitar entrevistas para emprego (o cidadão A está no percentil 90 do cômputo habilitações / experiência mas infelizmente não é primo de nenhum deputado nem milita para tachos) e não pode ausentar-se do país sob pena da cessação das prestações de desemprego. Fica ainda ciente de que os centros de emprego, pesem embora a seu favor a gentileza e forma da amostra de staff contactada, nunca ouviram falar de teletrabalho, part-time, adequação vocacional e, mais giro, desconhecem em absoluto as próprias movimentações, facto consubstanciado pela presença de "candidatos" convocados erroneamente; da prestação de informações incompletas; do desconhecimento de situações aberrantes impostas a "candidatos" em entrevistas com entidades que praticam parcerias com o IEFP. And so on.

Claro que às 11:46 o cidadão A tinha o carro bloqueado. Liga para a empresa e o agente aparece de imediato. Exige o pagamento de uma soma no montante de 60 euros, 30 para a empresa (taxa de serviço) e 30 para a DGV (coima). O cidadão A apresenta um cheque, meio de pagamento à vista consagrado na lei e de aceitação obrigatória até ao valor de 125 euros. O agente diz que a empresa sua empregador rejeita tal meio de pagamento. O cidadão A contrapõe com a lei e o agente manda-o reclamar por escrito, ou então ir buscar o carro 5 dias depois ao aeroporto.

O cidadão A fica naturalmente fodido com tanta prepotência, estupidez e irracionalidade junta na mesma manhã, e de caminho para casa pondera atitudes radicais, como declarar guerra sozinho a um pequeno país ou votar nas próximas eleições.

Mas a razão impera e em vez disso pauta-se por relembrar a si mesmo que a filhadaputice não se despe com sabão nem pondo uma gravata por cima.

Como post-scriptum, ao sacar os formulários Simplex do site do IEFP para solicitar aprovação de um projecto de criação de emprego (sim! o cidadão A não quer parasitar o estado-cabrão e vai abrir uma empresa, beneficiando assim utentes, trabalhadores e a cabra da sociedade em geral) eis senão quando, são nada menos do que 12 páginas com anexos, muitas delas contendo campozinhos para inscrever informação cujo teor obrigará, no mínimo, a contratar um fiscalista para o obter. Mais 7 anexos.

Desejo portanto ao estado e ao povinho umas boas entradas e melhores saídas, que eu, em podendo, emigro.

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