22.4.07

http://grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/2007/04/complacncia-absoluta.html


Para o cidadão médio, conhecedor de meandros universitários e experimentado na vida comum, essas explicações são falsas porque atentam contra o sentido comum da realidade das coisas. Uma licenciatura, com um exame final de rigor tabelado e sem favor pessoal, não se faz ao Domingo. Ponto final. E tanto não se faz que logo que surgiu a nesga de oportunidade para a negar, foi isso que aconteceu, com alívio, desmentido logo a seguir numa atrapalhada revelação de falsificação documental de responsabilidade ainda anónima.
Uma licenciatura digna, escorreita e com valor superior como foi o apresentado, não se faz com um único professor para uma caterva de cadeiras difíceis e com outro de empréstimo que nem o podia ser, com um exame mixuruco e de favor já examinado. Qualquer professor mediano sabe isto e foi o que o reitor da Universidade Fernando Pessoa, no último Prós & Contras veio dizer, no silêncio ambiente de outros.

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A complacência magna neste assunto, em contradição magnífica e flagrante com um suposto grau de exigência ético, no passado, permite que se questione a evolução democrática portuguesa ou se avalie a natureza da própria democracia que temos e somos.
Um país tido como de brandos costumes, alterna a contemporização mais laxista, com a intolerância mais acerbada, e a incerteza dos valores assentes, permite a certeza do futuro dos sociólogos e crónicos do regime e do contra.

Numa pequena resenha, o retrato de um país:

O jornal Independente saído no final dos anos oitenta, pode ser um bom guia desta esquizofrenia nacional, socialista e democrata.
Nessa época dourada de ética aflorada em papel de jornal, pela dupla Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso, foi notícia, em Março de 1989, o caso de Leonor Beleza como ministra na Saúde e a publicação de um relatório da Inspecção Geral de Finanças, conduziu directamente à demissão do ajudante de ministro Costa Freire, por corrupção. Sabemos como tudo acabou: o ajudante em tempos proclamou a sua intenção de accionar o Estado por ter sido acusado, julgado e …não transitado. O caso, como todos sabem, prescreveu. O futuro de Leonor Beleza perseguiu-a mais uns anos e com a prescrição do caso dos hemofílicos, acabou numa fundação de prestígio e muito dinheiro.
Em Janeiro desse mesmo ano, o caso da casa de Cadilhe, ministro de Finanças que aproveitou o serviço da guarda-fiscal para mudar os trastes de um apartamento modesto trocado para o luxo das Amoreiras, deu o brado necessário, para se entender como eticamente inadmissível tal comportamento, digno de demissão.
Em Fevereiro de 1990. estalava o caso Melancia, nomeado pelo presidente Soares para a governação de Macau: 50 mil contos remetidos ao governador que saíram do escritório de uma empresa alemã, por causa do aeroporto de Macau, sumiram. Em tribunal, Melancia ficou à parte; na outra parte, deu-se como provada a corrupção activa sem se ter determinado o agente da passiva. Melancia sempre negou. Rui Mateus, um íntimo do poder socialista centrado em Mário Soares e Almeida Santos, foi condenado e escreveu um livro a denunciar todas as tramóias que lhe interessavam na altura. Prometeu escrever outro. O principal visado, o dito cujo Mário, mai-lo seu partenaire de partido Almeida Santos, sairam totalmente incólumes do assunto, porque os procuradores gerais, na época, adjuntos do poder socialista, entenderam que o baile parava à porta de Belém. “Não se encontraram indícios suficientes”, foi a justificação legal.
Um desgraçado jornalista- Joaquim Vieira- tentou repescar o assunto da vilania explicada, por ocasião das últimas presidenciais. Fê-lo com tanta oportunidade que acabou despedido e a revista onde publicara o desaforo, fechada para balanço. Quem foi o responsável? O mistério aponta para um poder laico, republicano e de pendor social que se opõe sempre a uma famigerada“direita”, a atentar sempre contra a estimada “esquerda” defensora dos direitos do povo e do socialismo. É este o argumento supremo, sempre que o fogo chega às portas da cidade proibida. Aqui d´el rei! Vem aí a direita! Tem sido o slogan infalível dos sitiados pelos escândalos incontornáveis.
Em 1992, o escândalo rebenta no seio da própria entidade que acima de todas se instituiu como defensora dos interesses dos trabalhadores. A UGT, couto do socialismo à moda de Torres, foi acusada de aproveitar verbas do Fundo Social Europeu para formar vigaristas. Caiu o Carmo, a Trindade e a torre do Tombo afundou-se. Podia lá ser, uma coisa assim! Anos e anos depois, o processo, naturalmente, prescreveu. Couto sumiu, mas outros coutos apareceram e prosperaram, sempre em nome dos trabalhadores.
Em 1994, um outro assunto menor assumiu proporções de grande escândalo: O deputado do PSD e líder parlamentar, Duarte Lima, tinha uma Casa Cheia de coisas fabulosas. O Independente de 9 de Dezembro de 1994, prometia escrever sobre “as fabulosas casas” do deputado, vindo das berças transmontanas, pobre e com uma mão atrás e outra à frente, em busca das luzes da cidade. Uma quinta de 3 hectares, perto de Nafarros, suscitava a atenção do próprio Mário Soares que publicamente exprimia a sua estranheza pelos muros altos da quinta sem dono verdadeiramente conhecido e com movimentações suspeitas de obras e mais obras. Um bom ingénuo, este Soares, proclamava a sua estranheza mesmo, mesmo estranha, na época.
A fuga ao fisco, serviu outra vez para o escândalo estourar, com base sólida, demolida com o pagamento em processo de contra-ordenação e rectificação de declarações fiscais. O resto foi por água abaixo porque em 1994, o tráfico de influências era ainda uma miragem penalmente relevante. O deputado, aliás esteve sempre inocente de todas as acusações e trocou impressões nos jornais contra a inveja pátria.
Em Janeiro de 1996, calhou a vez a um Nabo de apelido, ser incomodado por ter tentado enganar o fisco. Murteira, ministro de Guterres, declarou um preço de compra de uma casa, abaixo do real. Ficou ao léu, porque o pecado era mortal, como fora para Cadilhe e veio a ser igualmente para António Vitorino, alguns anos depois, por causa de um monte alentejano, sem sisa.
Aliás, a falta de cumprimento escrupuloso das obrigações fiscais, tem sido o atoleiro de governantes, em Portugal. O único motivo de demissão de governantes, em Portugal, tem sido apenas esse. Bem, não apenas esse. Houve um outro, ainda mais grave, relacionado com uma anedota sobre hemofílicos. (correcção da Caverna: hemodiálise)
Os casos de corrupção ou nepotismo, sendo raros, são também do domínio dos assuntos esotéricos. Nunca um político se demitiu por insignificâncias dessas, negadas pelo povo que elege. Fátima Felgueiras? Inocente, até prova provada do contrário. O da mala preta? Qual quê! Isaltino Morais? Nem é preciso acrescentar mais. Narciso Miranda? Nem pensar. Até prepara o seu regresso ao futuro depois do caso desagradável de Sousa Franco que – isso sim!- não se tolera de modo nenhum… durante uns meses!

Nesta jangada de pedra da democracia pátria, a ética na política, parece uma moda, apresentada pelos jornais. Antes, a ética do inadmissível, resumia-se na fuga ao fisco que no fim de contas redundou na prisão de uma única pessoa, um anónimo da Oliva.
A corrupção, nunca se assumia porque não existia, até prova em contrário que nunca se fez. As leis que a combatem são sistematicamente combatidas na Assembleia por quem numa lógica perfeita, se recusa a combater o que não existe.
Os inquéritos no Parlamento, destinados a apurar responsabilidades ético-políticas, redundam sempre no mesmo destino conhecido antecipadamente: conclusões de geometria variável conforme a maioria que vota. A verdade, nisto tudo? Um pormenor casuístico, procurado apenas por interesse politicamente relevante ou pura e simples vingança contra os que ousam afrontar o poder político geral dos eleitos de sempre, em listas dos mesmos de sempre e em nome da democracia formal que juram a pés juntos respeitar.

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O que resta para a justiça do cidadão que vota, talvez seja a esperança de que algum destes salafrários se esqueça de declarar a sisa integral do apartamento de luxo, comprado com o salário de funcionário público e um jornal que ainda não existe (o Independente acabou), se lembre da oportunidade do assunto.
Mesmo assim, é de temer que nesta altura, já nem sequer exista assunto de escândalo suficiente.
A prova, cabal e de demonstração directa, está à vista de todos.

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